segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Ética no Trabalho

 Esta publicação surge, acima de tudo, porque acredito que o mundo seria muito melhor se houvesse mais e não menos reflexão filosófica/ética, e porque penso que todo o sofrimento evitável do mundo provocado pelo terrorismo, pela fome, pela falta de educação ou de cuidados básicos de saúde, pela sistemática violação dos direitos humanos, pelas tiranias e ditaduras políticas, económicas ou culturais, pelo fanatismo, pela pura ignorância, indiferença ou muito simplesmente pela estupidez humana não é fruto de um destino incontornável, mas sim o resultado das escolhas dos homens. O estudo da ética na filosofia pode e deve contribuir para esclarecer essas escolhas, fornecendo argumentos capazes de as transformar em escolhas melhores, isto é, escolhas que permitam aliviar imparcialmente o sofrimento evitável promovendo um acréscimo significativo do bem-estar, nos mais diversos contextos, seja pessoais ou profissionais. 
O facto da humanidade não aplicar muitas das soluções propostas pelos filósofos não nos autoriza a concluir que essas soluções não existem. As questões éticas  são colocadas por filósofos e por não filósofos, a grande diferença é que os primeiros não desistem nem se conformam exclamando “o mundo está perdido!” Desde sempre as grandes questões colocadas pela humanidade partem da análise da realidade e do desejo de a modificar, tornando-a não só mais inteligível mas também melhor. Ora, para construirmos uma realidade melhor, parece-me que não temos apenas que a compreender mas também que a transformar. Essa transformação só ocorre se tivermos uma argumentação racional suficientemente convincente e mobilizadora da vontade, e para isso necessitamos, obrigatoriamente, de entender o conjunto de princípios morais ou valores que definem o que é certo ou errado para a nossa atuação no dia a dia, i.e., explorar a dimensão prática e objetiva da ética.
Neste sentido, e tendo em conta o contexto deste blog, o principal interesse reside na análise de alguns aspetos que penso serem significativos, dando especial importância à ética profissional e à importância que esta questão assume na construção de atitudes e comportamentos profissionais das pessoas, às quais hoje tento dar mais atenção. Sendo desta forma que Argandoña Rámiz concebe a questão da ética como sendo “um fenómeno que parece estar na moda da política, da economia, da empresa, da profissão, destacando que a ética está na moda pela falta de ética que observamos nestes campos”. O autor dá conta que produzir, competir e superar um mercado corrupto, com trabalhadores, competidores, diretores, lutando com imoralidade, com vícios, não é tarefa fácil.
Não é por acaso que as grandes épocas de reflexão sobre a ética foram as grandes épocas de transição, em que se verificaram também a corrupção e a imoralidade. De novo, atualmente, volta-se a falar em todos os recônditos do mundo profissional da ética, para se encontrarem normas que inspirem o comportamento do ser humano, em geral na sociedade e em particular na organização e na profissão que exerce. Não admira que a construção de uma ética na profissão envolva não só o trabalhador, a empresa, mas também a sociedade no seu conjunto. Para tal é necessário inovar através de políticas que envolvam e confiram importância a cada elemento, a cada pessoa, a cada trabalhador e ao seu contributo para um objetivo pessoal mas também comum. De pouco servirão grandes estratégias, se a coletividade não sentir uma consistência ética e moral nos procedimentos e comportamentos de cada indivíduo e sobretudo daqueles que têm maior responsabilidade face às funções e papéis que lhe são atribuídos. 
Independentemente daquilo que se possa pensar quanto à vivência da ética, todos temos de reconhecer que qualquer profissional que considere os princípios éticos como o motor das suas escolhas, das suas ações e do seu agir, os resultados adquirem vivências que moldam não só o comportamento profissional, mas também conferem um modo de estar, que lhe proporciona uma forma diferente de entender o ser humano, alcançando uma salutar relação de grande qualidade não apenas técnica, mas também humana. Esta realidade assegura-lhe um conjunto de sinergias, e êxitos, que o levam a adquirir grande prazer naquilo que faz. Esta condição estende-se ao indivíduo, ao grupo profissional a que pertence, à empresa, ao bem comum da comunidade. 
A presente realidade que vivemos que é problemática, obriga-nos a parar para pensar e a usar o pensamento para agir. Sem esta atitude mergulharemos ainda mais no caos e na compaixão passiva e inútil. Sem esta atitude encontramo-nos à mercê de todas as manipulações, de todos os egoísmos, de todos os interesses pouco claros. Se nos recusarmos a pensar e a agir ficamos à deriva e arriscamos a encalhar-nos e a encalhar tudo o que nos rodeia, a nível pessoal e profissional. Usando a velha regra dourada: “Não faça aos outros aquilo que não deseja que os outros lhe façam”.