Artigo redigido por Davide Gouveia*
DG68|2007-13|14
Erros
profissionais não estão nos planos de ninguém. Ninguém imagina que possa errar
um pênalti, muito menos se esse pênalti for na partida final do campeonato. Mas
isso é coisa que acontece e, nessas horas, alguns conceitos de marketing são
remédios muito mais eficazes do que desespero e fuga.
No dia 31
de outubro de 1996, às 8 horas da manhã, um avião da TAM caiu, 25 segundos
depois de decolar do aeroporto de Congonhas, em São Paulo.
O acidente,
no qual morreram 98 pessoas, tinha todos os ingredientes para quebrar a
empresa. Além da gravidade em si, do número de vítimas e dos danos materiais
causados, era um desastre que caía como uma luva para os interesses da
concorrência e de outras empresas interessadas em se aproveitar comercialmente
da situação. Seria, enfim, um desastre completo.
Seria!
Seria um desastre completo se o Comandante Rolim (presidente da companhia à
época. Falecido em 2001) e sua equipe não estivessem preparados para enfrentar
aquela situação.
Eles agiram
de forma rápida, tomando providências simples, posicionando claramente a
empresa e solucionando os problemas possíveis. Sabiam, por exemplo, que os
parentes das vítimas seriam apresentados na televisão, chorando, mostrando a
fotografia do parente morto e culpando alguém pelo “crime”. Por isso,
prontamente eles “recolheram” o máximo de parentes que puderam em um hotel de
luxo, com médicos, enfermeiros e psicólogos. Com isso eles mataram dois coelhos
com uma só cajadada: providenciaram o atendimento às vítimas (os parentes
também são vítimas) e evitaram todo o terrorismo que teria sido feito na
televisão se os parentes ficassem “soltos”.
Em momento
algum deixaram de informar à imprensa sobre o que estava acontecendo. Todas as
ações foram rápidas e coordenadas. Parece até que eles estavam treinados para
enfrentar uma catástrofe daquela envergadura.
Parece? É
claro que estavam treinados! Uma empresa cuja atividade convive diariamente com
o risco de acidentes graves precisa estar preparada para administrar os
problemas causados por acidentes graves. Muita gente elogiou o comportamento da
TAM naquele episódio. Eu mesmo acho que eles foram ótimos. Conseguiram reduzir
ao mínimo as conseqüências inevitáveis do acidente.
Mas não
foi, como muita gente quis dizer, puro feeling. Pura intuição de marketing do
Comandante Rolim (até porque ele não estava no Brasil no momento do acidente e
só voltou no dia seguinte).
Foi, antes
de tudo, uma manifestação de competência, de preparo e de planejamento. A
empresa agiu rápida e eficientemente porque estava “esperando” que coisas desse
tipo acontecessem. Os procedimentos já estavam previstos.
E, justiça
seja feita, se o acidente tivesse ocorrido com qualquer uma das outras grandes
companhias de aviação, o comportamento, provavelmente seria o mesmo. Isto está
nos manuais de condução de crises que todas as grandes empresas têm.
Esta é a
lição que nós devemos tirar daquele lamentável acidente. Se você é prestador de
serviços, você precisa ter consciência de que alguma coisa pode um dia sair
errado. E você precisa pensar nessas coisas bem antes que elas aconteçam. Com a
cabeça fria para fazer o melhor planejamento possível.
Qual é o
arquiteto que deseja descobrir, com a obra em andamento e a concretagem
programada para o dia seguinte, que uma determinada escada, por erro do
projeto, não permite a passagem, em pé, de uma pessoa com mais de 1,70m.
Qual é o
engenheiro civil que gostaria de ver uma obra construída por ele, cair três
meses depois de concluída.
Qual
engenheiro eletricista quer ver uma indústria com todas as suas máquinas
paradas por uma semana, porque houve um erro no cálculo do dispositivo de
proteção e os transformadores queimaram.
Durante a
carreira profissional de um engenheiro ou de um arquiteto, problemas podem ocorrer.
Erros podem ser cometidos. Alguns menores, com pequenas conseqüências. Outros,
maiores, potencialmente destruidores de uma carreira. É óbvio que esses
problemas não são desejados.
Mas eles precisam ser previstos. Na hora de um
problema você precisa ter claro algumas considerações sobre marketing e precisa
saber com certa precisão o que fazer ou que postura assumir.
Vamos
sugerir alguns comportamentos e procedimentos que poderão ser úteis para a
minimização de um problema. Lembre-se: esses procedimentos e comportamentos
precisam estar introjetados em você. Não se trata de “sofrer por antecipação”.
Trata-se de estar preparado para administrar as conseqüências de um erro
profissional. Trata-se, também, de fazer as coisas certas desde o início,
evitando assim que um eventual erro profissional se transforme num desastre.
1. Não saia
por aí dizendo que você não tem culpa de nada. Que você fez tudo certo. Que
você está coberto de razão. Mas também não saia assumindo a culpa pelo
problema, a menos que você tenha certeza absoluta de que o problema foi gerado
por um erro seu. Muitas vezes aquilo que parece óbvio não é tão óbvio assim.
Não custa nada esperar um pouquinho antes de manifestar alguma conclusão. No
entanto, desde o primeiro momento, você deve mostrar-se disposto a aceitar que
o erro foi seu, desde que isso seja demonstrado.
2. Não fuja
do campo de batalha. Apresente-se no local do problema. Muitas vezes a vítima
(o cliente) não quer a reparação financeira pelo estrago causado. Ele só quer
ter alguém em quem possa colocar a culpa. Ele quer que você veja a cara dele
diante daquele desastre. Nessas horas, deixar de atender o telefone ou sair da
cidade é a maneira mais simples de amplificar o tamanho do problema. Além
disso, as pessoas têm um natural constrangimento de dizer “verdades” quando
estão na presença do principal atingido. Assim, se você estiver no local, já
reduz bastante o falatório;
3. Não
tenha a ilusão de que vai eliminar todo o problema, utilizando técnicas de
marketing e de relacionamento. Muitas vezes você precisa, além de reconhecer o
erro, assumir as conseqüências financeiras que o problema traz. Nesses casos
convém, antes de fazer o contrato, fazer uma análise de riscos e incluir
cláusulas que tratem do assunto.
Em alguns
casos, faça seguro. O seguro contra danos materiais causados por erros
profissionais, além de aumentar a sua segurança, pode ser uma boa propaganda da
sua empresa.
* Manager do Blogue desde Outubro de 2007.
¹ Fonte: Ênio Padilha
Engenheiro,
escritor e palestrante. Formado pela UFSC, em 1986, especializou-se em Marketing Empresarial na UFPR,
em 1996/97.Escreve regularmente e seus artigos são publicados, todas as semanas, em
diversos jornais do país.
eniopadilha@uol.com.br