quinta-feira, 4 de junho de 2020

O Tentilhão e a Coruja

Artigo redigido por Davide Gouveia*    
DG84|2007-2020

Conto Popular 

Um dia, a coruja encontrou-se com o tentilhão.
Onde vais - perguntou o tentilhão.
Vou mudar para leste - respondeu a coruja.
Porquê? - quis saber o tentilhão.
Ninguém gosta do meu "cantar" por aqui - respondeu a coruja. Por isso quero ir para leste. Penso que as coisas por lá vão correr melhor. 
O tentilhão ficou pensativo durante um tempo e por fim disse: se conseguires mudar o teu "cantar", tens razão, vai correr melhor, como dizes. Mas senão conseguires... Se o teu "cantar"continuar o mesmo, mesmo que vás para leste, vai ser tudo igual. Lá também ninguém vai gostar do teu "cantar". 

Reflexão

Este é um conto que nos leva a refletir sobre um tema temido e desejado: a mudança de emprego

Mudar de emprego é, em princípio, uma coisa boa, não devemos fazer de ânimo leve. 
Existem fatores que devemos analisar de forma cuidada. Devemos ter consciência de que não nos pode acontecer o mesmo que à coruja. Os problemas, os amigos, os inimigos, os que gostam de nós e os que não gostam, o chefe e este e aquele... Tudo isso continuará a existir na nova empresa. 

Mudar de emprego não é um problema | Estácio Carreiras
A novidade passa com o TEMPO. Estejamos onde estivermos, a maioria dos problemas e soluções ir-se-ão reproduzir pelo simples fato de que estamos lá nós. 
A mudança de emprego deve obedecer a uma reflexão profunda e consciente! Sobretudo, devemos questionar-nos onde estamos e se o lugar onde estamos é o melhor para chegar ao lugar onde queremos estar num espaço de entre três a cinco anos. Porque, se as empresas necessitam de um plano, os funcionários também.  

Nós somos a nossa própria empresa e devemos agir como tal. Fixar Objetivos. Fazer uma revisão anual e ver se os estamos a cumprir. Basicamente, trata-se de aplicar o PDA, uma sigla fácil de decorar graças ao dispositivo que revolucionou a vida dos executivos, mas que neste caso significa: PENSAR. DECIDIR. AGIR. 

Parece simples, mas não é. Porque primeiro teremos que pensar objetivamente, libertos do espiral do dia-a-dia. Depois, teremos de decidir qual a melhor opção e agir no momento certo. Só assim faremos a escolha correta e continuaremos a progredir e subir.

Outro aspeto importante é que não podemos nos deixar cegar pelos números, nem quando nos beneficiam, nem quando nos prejudicam. O dinheiro é importante, importantíssimo, mas os ganhos não são apenas dinheiro. Por vezes, por querer ganhar um pouco mais, acabamos por perder muito mais que dinheiro. Fazer a avaliação com base só na questão financeira é um dos fatores mais comuns em que erram os profissionais. Esse cenário é comum em mudanças que poderiam ser consideradas verdadeiras fugas de emprego. Ou seja, ao identificar um problema ou um conflito, o profissional não procura solução mas, sim, evasão.

O plano deve estar acima do dinheiro e ver os ganhos numa dimensão mais geral que inclua família, vida pessoal, cultura, valores, o PROJETO, e claro, o dinheiro. 

Para fazermos uma análise profunda, devemos responder a algumas questões fundamentais que nos integram numa dimensão completa de análise, nomeadamente:

1. O que é mais importante para nós na vida? 
2. Pelo que vale a pena vivê-la? 
3. Por que essas coisas são importantes para nós? (As respostas a essa última pergunta são os nossos valores). 
4. Quais desses valores satisfazemos em nosso trabalho atual?
5. Quais são as nossas maiores qualidades e pontos fortes? 
6. Por que as pessoas nos admiram? 
7. Como usamos essas habilidades no trabalho? Como poderia usá-las mais?
8. Qual é a principal insatisfação com o trabalho? 
9. Já fizemos algo para mudar essa situação? O quê? O que mais poderia fazer para resolver esse impasse?
Vale parar e refletir sobre todas as perguntas. Depois disso, se concluirmos que falta um ambiente para ‘florescer’ na empresa onde estamos, podemos procurar a grama do vizinho. No entanto, às vezes a grama do vizinho não é assim tão verdinha quanto parece. Talvez, o nosso gramado seja bonito e nem precisamos mudar para o do vizinho. Como o Dr. Lair Riberio diz: A vida é um eco. Se você não está gostando do que está recebendo, observe o que está emitindo.  Perceber isso é opção nossa! 
Em suma: Devemos encarar a mudança de emprego como se fossemos uma empresa, deixando de lado os sentimentos pessoais e a voragem dos acontecimentos do dia-a-dia. 

* Manager do Blogue desde Outubro de 2007.