segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

O Tolo que era Sábio

Artigo redigido por Davide Gouveia*    
DG72|2007-13|14

Mulla Nasrudin (Khawajah Nasr Al-Din) viveu no século XIV. Contou e escreveu histórias onde ele próprio era personagem. São histórias que atravessaram fronteiras desde sua época, enraizando-se em várias culturas. Elas compõem um imenso conjunto que integra a chamada Tradição Sufi, ou o Sufismo, seita religiosa de antiga tradição persa e que se espalha pelo mundo até hoje. 

Uma das histórias que mais gosto, e que muitos garantem que é verdade, que, há muitos anos, numa aldeia pacata, a única diversão era rir de uma estranha personagem chamada Nasrudin. Todos garantiam que não existia em todo o mundo uma pessoa tão idiota e tão pouco inteligente como ele. 

VEJAMOS: 

Todos os dias o Mullah Nasrudin ia esmolar na feira, e as pessoas adoravam vê-lo fazendo o papel de tolo, com o seguinte truque: mostravam duas moedas, uma valendo dez vezes mais que a outra. Nasrudin sempre escolhia a menor. A história correu pelo condado. Dia após dia, grupos de homens e mulheres mostravam as duas moedas, e Nasrudin sempre ficava com a menor. Até que apareceu um senhor generoso, cansado de ver Nasrudin sendo ridicularizado daquela maneira. Chamando-o a um canto da praça, disse:
- Sempre que lhe oferecerem duas moedas, escolha a maior. Assim terá mais dinheiro e não será considerado idiota pelos outros. 
- O senhor parece ter razão, mas se eu escolher a moeda maior, as pessoas vão deixar de me oferecer dinheiro, para provar que sou mais idiota que elas. Isso seria uma estupidez, não lhe parece? O senhor não sabe quanto dinheiro já ganhei, usando este truque. Não há nada de errado em se passar por tolo, se na verdade o que você está fazendo é inteligente. Às vezes, é de muita sabedoria se passar por tolo e é muito melhor passar por tolo e ser inteligente do que ter inteligência e usar fazendo tolices

"Os sábios não dizem o que sabem, os tolos não sabem o que dizem!" 

Conclusão:

Esta é para mim uma das grandes mensagens da história: toda a gente tem sempre algo para nos ensinar, mesmo que, aparentemente, seja um perfeito idiota. Mas, nas relações empresariais, onde, de vez em quando, se travam batalhas, devemos ter consciência de que muitos daqueles que se fazem de idiotas não o são, e de que se aproveitam dessa imagem que projetam precisamente como estratégia. 

Existem muitos exemplos que nos convidam a ser cautelosos. Em A Arte da Guerra de Sun Tzu, aprendemos que não devemos mostrar as nossas verdadeiras armas ao inimigo. Se somos rápidos, devemos aparentar ser coxos, se somos ágeis, aparentar ser lentos. E, se somos superiores em número, devemos aparentar escassez de efetivos. Deste modo, poderemos aproveitar o fator surpresa e, depois, ser mais velozes, mais ágeis e mais numerosos que os nossos adversários. 

Nasrudin também nos ensina que devemos tentar ser suficientemente inteligentes para calcular os ganhos das nossas ações. É importante não que nos deixemos cegar pelos benefícios a curto prazo; devemos ser capazes de ver e de calcular a longo prazo. Na verdade, Nasrudin não escolhia sempre a moeda mais valiosa? Não seria a menor que o beneficiava mais? Não devemos confundir valor com benefício, nem benefício com ganho. 

Em suma: Um dos maiores prazeres que um homem inteligente pode ter é aparentar ser idiota perante aqueles idiotas que aparentam ser inteligentes. 

Como disse Hans Christian Andersen: "Os contos servem para adormecer as crianças e para despertar os adultos.”

* Manager do Blogue desde Outubro de 2007.