A gestão do talento passa pela optimização da GRH com base na segmentação. Uma das segmentações mais importantes distingue recursos importantes e funções pivô. Recursos importantes são os que têm valor para organização. Funções pivô são aquelas nas quais pequenas mudanças produzem grandes diferenças para a estratégia e valor da organização. Esta distinção está bem patente através da gestão dos parques da Disneyland. Verifica-se que funções importantes (figuras da Disney como o Mickey, a Bela Adormecida ou a Fada Sininho) não correspondem às funções-pivô (varredores e empregados das lojas do parque).
De forma a se compreender o papel estratégico das pessoas aos diversos níveis da organização é interessante considerar o caso Disneyland. O posicionamento estratégico da organização consagra os seguintes aspectos:
Diferenciador chave: figuras da Disney.
Proposta de valor: "o lugar mais feliz da Terra".
Essência da marca: fantasia.
Os pontos-pivô do processo são:
Entidades geradoras das maiores diferenças no objectivo estratégico da Disney de deliciar os clientes.
Os talentos importantes incluem:
Rato Mickey: figura muito trabalhada, normalizada e com elevados padrões.
A pessoa com o fato do Rato Mickey não é suposto interagir calorosamente com os clientes, pois qualquer erro poderia ser estrategicamente devastador.
A pessoa com o fato do Rato Mickey nunca é vista, nunca fala e está sempre acompanhada pelo supervisor que gere os encontros com os convidados e assegura que o Mickey nunca cai ou se perde.
Qualquer investimento adicional na pessoa do Rato Mickey não tem repercussão significativa no objectivo estratégico de "deliciar os clientes".
Talentos-pivô:
Quando os "convidados" escrevem cartas a partilhar as experiências agradáveis nos parques da Disney, começam frequentemente por descrever encontros inesperados com outro pessoal da Disney que não as figuras da Disney.
Quando os convidados têm um problema tendem a dirigir-se aos varredores e empregados das lojas, muitos mais acessíveis do que as figuras Disney.
Os varredores constituem, hoje, talentos pivô da Disney.
A empresa investe fortemente na sua formação e remunera-os acima da concorrência, o que lhe permite seleccionar os melhores varredores do ponto de vista da qualidade da relação com os clientes.
Os varredores participam nas equipas de design de novos parques e na reestruturação dos existentes, e são considerados pela gestão como representantes dos clientes com vassouras na mão.
O investimento nos varredores tem repercussão significativa no objectivo estratégico de "deliciar os clientes".
Outros exemplos de funções-pivô nas organizações são os compradores nas empresas de retalho ou os técnicos com competências para gerarem bons ambientes de trabalho em equipa. O conceito de valor marginal/pivô contribui para mudanças das estratégias de RH e pode conduzir igualmente a alterações da estratégia do negócio. Ilustra ainda o facto de o talento estar disperso na organização, não sendo apanágio exclusivo de um grupo de "estrelas". As organizações que se focalizam apenas nas figuras importantes mas descuram os pivôs podem ver o seu desempenho negativamente afectado. O caso da Disney apresentado ajuda a compreender como actividades desprestigiadas e aparentemente pouco relevantes para as organizações podem exercer um efeito significativo na relação com os clientes - e o leitor pode facilmente compreender como esse papel poder ser especialmente saliente em organizações de serviços.
Fonte: Gomes et al. (2008, p. 123-124).
Sugestão para aprofundamento:
Boudreau, J. W. & Ramstad, P. M. (2007). Beyond HR. Boston, MA: Harvard Business School Press.
Flexigurança é
um novo termo em debate acerca do futuro do mercado de trabalho na Europa e o desenvolvimento
de políticas sociais. Refere-se à conciliação de elevados níveis de segurança.
Ou seja, a flexigurança significa não ter de escolher entre flexibilidade e
segurança, mas antes conciliar formas flexíveis de trabalho com garantias de
protecção social tais como o acesso a formação profissional. Por exemplo, se os
trabalhadores renunciam a um aumento salarial durante um determinado período,
são compensados com flexibilidade interna: formação contínua, que lhes garante
um lugar futuro no mercado de trabalho; redução no número de horas de trabalho,
que favorece a gestão de tempo e a conciliação trabalho-família; etc. Ou seja,
os trabalhadores recebem mais protecção social e segurança em troca de medidas
de flexibilidade que também beneficiam a empresa.
A flexigurança
pretende combinar uma adequada protecção ao trabalhador e flexibilidade
suficiente no mercado de trabalho que permita às empresas tomar as medidas
necessárias de reestruturação para se manterem competitivas em que o processo
de recrutamento e o despedimento de trabalhadores sejam facilitados, isto é, o
objectivo é a protecção das pessoas e não a protecção do posto de trabalho. O
posto de trabalho está sujeito às mutações industriais, aos avanços
tecnológicos e à exigência de qualificação e competência profissional dos
trabalhadores.
Se quisermos
simplificar podemos dizer que a flexigurança é uma combinação de despedimentos
flexíveis com subsídios de desemprego generosos. O modelo tem sido aplicado na
Dinamarca e na Holanda e está a ser debatido na União Europeia, tendo já dado
origem ao livro verde. Porém, existem fundadas dúvidas de que a aplicação desse
modelo em Portugal possa ter o mesmo sucesso que tem tido naqueles países do
Norte da Europa. A introdução, como contrapartida pela flexibilização do
mercado de trabalho, de subsídios de desemprego mais generosos pode ter um
efeito perverso. É que os portugueses não têm a mesma consciência e preocupação
cívica que têm os dinamarqueses ou dos holandeses. É pois, muito provável que a
concessão de elevados subsídios de desemprego viesse a contribuir para a
criação de novos subsídio-dependentes que se limitariam a usufruir dos
generosos subsídios de desemprego, fugindo, "como o diabo foge da
cruz", da oferta de um novo emprego.
Desafio ao
leitor:
Discuta este ponto de vista de Isabel Meireles: "A questão (...) que se coloca é se é possível fazer um transplante de um modelo de flexigurança de um dador que é incompatível com o paciente, que se arrisca, assim, a morrer. Sabemos todos que a mentalidade e a predisposição laborais de um português não são exactamente iguais à de um dinamarquês, nem sequer aproximadas, nomeadamente em características como o rigor, organização, pontualidade, transparência e tantas outras que para os orgulhosos vikings são genéticas e que para os lusitanos vão levar gerações a adquirir. Em qualquer caso, é certo que há que abanar o sistema instalado, mais que não seja jus ao aforismo popular de que se não morrer da doença, morre da cura".
A introdução do conceito de competência surgiu acerca de 3 (três) décadas através do psicólogo David McClelland num artigo que foi publicado na revista American Psychologist, e intitulava-se Testing for competence rather than intelligence. McClelland sugeria que os tradicionais testes de inteligência e de aptidão académica não seriam suficientes para prever o sucesso no trabalho, sendo necessário criar um perfil das competências necessárias ao eficaz desempenho duma função (Gomes et al., 2008). Segundo Parry (1998) a competência define-se como “um conjunto de conhecimentos, atitudes e capacidades relacionadas, que afecta a maior parte de uma função (i.e., um ou mais papéis ou responsabilidade chave), que se correlaciona com o desempenho na função, que se pode medir relativamente a padrões aceites, e que se pode melhorar por via da formação e desenvolvimento” (as cited in Gomes et al., 2008, p.541).
O cenário organizacional mudou de forma sensível ao longo dos anos, tornando-se cada vez mais complexo e imprevisível, exigindo competências fundamentais ao profissional de RH, para que este tenha uma actuação estratégica e contribua eficazmente para o desempenho organizacional. Vários pesquisadores, que estudam o papel da área da gestão de RH, discutem as competências requeridas a um profissional para a execução plena das suas funções. Começo por referir o estudo de Richard Boyatzis (cit. in Gomes et al., 2008, p. 543) que identificou um 5 (cinco) grupos de competências superiores de gestão, que serviu de ponto de partida para outros estudos desenvolvidos por investigadores e consultores. Os grupos de competências identificados no estudo são:
Gestão da acção e dos objectivos – capacidade de fazer que as coisas aconteçam, relativamente a um objectivo, ou de forma consistente com um plano.
• Preocupação com o impacto: Preocupação com status e reputação.
• Uso de conceitos para diagnóstico: identificação e reconhecimento de padrões com base em informação diversa, e sua utilização para interpretação dos acontecimentos.
• Orientação para a eficiência: Preocupação em fazer melhor.
• Proactividade: Disposição para agir a fim de alcançar resultados.
Liderança – Capacidade de activar as pessoas através da comunicação de objectivos e planos, estimulando o interesse e o envolvimento.
• Conceptualização: Desenvolver um conceito que descreve um padrão ou uma estrutura num conjunto de factos.
• Autoconfiança: Saber o que se está a fazer e sentir que se está a fazer bem.
• Uso de apresentações orais: Fazer apresentações verbais eficazes, quer em situações de uma para um, que nas que envolvem muitas pessoas.
Gestão de Recursos Humanos – Capacidade para gerir a coordenação de grupos de pessoas que trabalham juntas em prol dos objectivos da organização.
• Uso do Poder socializado: Usar formas de influência para criar alianças, redes, coligações e equipas.
• Gestão do processo do Grupo: Estimular outros a trabalharem eficazmente em situação de grupo.
Atenção ao Outro – Maturidade e posse de uma visão equilibrada de acontecimentos e pessoas.
• Objectividade perceptual: Ser relativamente objectivo, evitando o preconceito.
• Autocontrolo: Ser capaz de inibir necessidades ou desejos pessoais em prol das necessidades organizacionais.
• Energia e adaptabilidade: Ser capaz de trabalhar muitas horas e de ter a flexibilidade para se adaptar às mudanças na vida e na envolvente organizacional.
Direcção de subordinados – Capacidade de transmitir feedback de forma construtiva.
• Direcção de subordinados: Competências para desenvolver os outros.
É importante referir que estas competências apresentadas pelo autor não são neutrais, possuem uma conotação valorativa, pois presume-se que estão associadas a níveis de desempenho superior (correspondentes aos 10% do topo). Diferenciam-se das competências liminares, que corresponde ao nível de trabalho minimamente aceitável.
É importante apresentar agora as competências identificadas por Becker, Huselid e Ulrich (2001) que se focalizaram exclusivamente nas competências requeridas a um profissional de RH. Sendo assim, para Becker et al. (2001), existem cinco competências fundamentais que um profissional de RH deve possuir para a obtenção de alto desempenho das suas funções:
• Conhecimento do negócio – O profissional de RH agrega valor à organização quando compreende o funcionamento do negócio. Um bom entendimento do negócio vai permitir ao profissional de RH antever oportunidades e ameaças e antecipar-se no sentido de implementar projectos e inovação.
• Domínio de práticas de GRH – Uma premissa para que o profissional de RH alcance o alto desempenho é invariavelmente o domínio das ferramentas de trabalho e melhores práticas aplicáveis à GRH. Cabe ao profissional de RH investir na sua especialização, já que isso trará benefícios ao nível da credibilidade, resultados e satisfação dos clientes internos.
• Gestão de cultura – A gestão da cultura requer o conhecimento dos valores que orientam a conduta e os comportamentos das pessoas. Os sistemas e arquitectura de RH devem reforçar valores coerentes com a cultura que a empresa desejar instaurar na busca por coerência com a estratégia. O profissional de RH deve estar capacitado para oferecer apoio consultivo aos gestores organizacionais, auxiliando-os a harmonizar os seus projectos e a cultura da organização.
• Credibilidade pessoal – Enquanto as demais competências podem ser consideradas como pilares da actuação do profissional de RH, a credibilidade pessoal pode ser vista como a base de fundação sobre os qual se apoiam os pilares. Somente através da credibilidade o profissional de RH será capaz de persuadir a gestão de topo e os gestores de linha em relação à estratégia de GRH.
• Gestão da Mudança - Esta é mais um exemplo de como o profissional de RH se pode consolidar como parceiro estratégico. O profissional de RH dever ser capaz de orquestrar os processos de mudança através de habilidades como, diagnóstico de problemas, relacionamento com clientes internos, gestão de projectos e solução de problemas.
O fundamento básico deste blogue é contribuir para o debate sobre a Gestão de Pessoas nas organizações, tendo em conta o ambiente competitivo que se vive. A Gestão de Pessoas tem sido alvo de crescente interesse que decorre da evidência do seu impacto no desempenho organizacional, este facto, poderá constituir vantagem determinante no contexto de grande competitividade que caracteriza a economia nos dias de hoje.
Os RH deixaram de ser vistos como simples recursos com determinadas competências para executar tarefas e para alcançar os objectivos da organização, para claramente passarem a ser considerados pessoas na verdadeira a acepção da palavra: com valores, crenças, atitudes, aspirações e objectivos individuais.
O Gestor de Pessoas de hoje e do futuro integra uma equipa que partilha experiências e conhecimentos visando encontrar soluções para uma vasta variedade de problemas. Gerir pessoas deve ser mais que controlar procedimentos e rotinas, implica o envolvimento de todos os membros da organização, um investimento na criatividade e inovação como factores de diferenciação.
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Existirá, na verdade, uma «fórmula mágica» capaz de produzir líderes instantaneamente?
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Leitura Obrigatória
Referências
Alvin Toffler - Um mestre da gestão que efectuou previsões correctas sobre o que estava para vir - “O meu ponto de partida foi sempre a mudança “.
Daniel Goleman - Um mestre da gestão que está disposto a aprofundar as emocões - “É um risco ignorarmos as competências emocionais”.
Ian Mitroff - Um mestre da gestão que acredita que as organizações necessitam da “pessoa como um todo” - “Precisamos de novas formas de pensar sobre pessoas e organizações, e precisamos de novas formas de medir o input, output e desempenho como um todo”.
Jeffrey Pfeffer - Um mestre da gestão que destaca as pessoas na equação dos negócios - “Que outra dimensão existe nas organizações, para além das pessoas?
Jonas Ridderstrale - Um mestre da gestão que afirma que ser diferente é uma verdadeira mais-valia - “Quando se investe na imaginação humana – sentimentos e fantasia – o limite é o céu.
Kenichi Ohmae - Um mestre da gestão que vê o mundo através do portal do Japão - “Esqueçam os mitos ocidentais simplistas sobre a gestão nipónica. Há muito mais do que hinos de empresa e emprego para toda a vida”.
Leif Edvinsson - Um mestre da gestão sensível aos “activos intangíveis” da empresa - “Aquilo que não se vê está hoje a dirigir as economias do mundo. O capital intelectual das nações é a nova riqueza das nações”.
Peter Senge - Um mestre da gestão que lançou a ideia da organização "aprendente” - “No seu sentido mais simples, uma organização aprendente consiste num grupo de pessoas que estão continuamente a melhorar a sua capacidade de criarem o seu próprio futuro”.
Warren Bennis - Um mestre da gestão com uma paixão pela liderança - “O novo líder percebe e pratica o poder de reconhecimento”.