sábado, 4 de outubro de 2014

Notícias GP 2014_Parte 4

Notícia 1: O RH está ficando cada vez mais masculino 
 
Tradicionalmente dominado por mulheres, o RH está ficando cada vez mais masculino. São homens que já pedem para mudar de carreira, atraídos pela crescente função estratégica e visibilidade que a área adquiriu. 

Foi em Paris, em julho de 2009, quando estava expatriado havia mais de dois anos, que o engenheiro Ilder Camargo, então diretor técnico de Stainless Europe da Aperam South America, recebeu o convite para assumir a diretoria de RH para o Brasil e a América Latina.

A mudança foi uma surpresa para o executivo que tinha trilhado toda a carreira em áreas operacionais. Dois anos e meio depois, o mesmo tipo de convite foi feito a Luiz Thomé de Souza, outro executivo que só tinha trabalhado em áreas de negócios ou corporativas até assumir o RH da empresa aérea Gol.
 
No início de 2013, foi a vez de Paulo Miri, que trocou a vice-presidência de suprimentos pela de RH na Whirlpool, fabricante de eletrodomésticos.
Doze anos antes, José Ricardo Amaro, diretor de RH da Unipar Carbocloro, do setor de cloro-soda e derivados, já tinha feito movimento parecido. Ele acabara de trocar 17 anos de experiência em auditoria por um cargo na área de pessoas da Brasil Telecom. 
O movimento feito pelos quatro executivos tem acontecido com cada vez mais frequência nas companhias. Geralmente, o topo da empresa tem olhado para seus profissionais mais estratégicos e lançado a eles o convite para assumir a área de gestão de pessoas.
A consequência curiosa dessa migração é que a área de recursos humanos — tradicionalmente feminina — está sendo dominada pelos homens. De acordo com a pesquisa Top Executive Compensation, feita com 322 empresas pela consultoria Hay Group, a concentração de mulheres no RH vem diminuindo, especialmente quando consideramos o primeiro nível.
O estudo aponta que, em 2008, 21% das executivas participantes da pesquisa ocupavam a diretoria de recursos humanos. Em 2013, essa fatia caiu para apenas 14%. Sim, uma das explicações para esse fenômeno é o fato de mais mulheres terem optado por carreiras em outras áreas da empresa.
Mas a principal razão da evasão feminina do RH é a busca da própria companhia por profissionais de outros setores — já dominados por homens — para assumir a gestão de pessoas. Segundo Daniela Simi, diretora do Hay Group, há dez ou 15 anos o RH era muito mais feminino porque estavam lá pessoas oriundas do curso de psicologia, historicamente escolhido mais pelas mulheres. E isso mudou. 
Se, antes, os psicólogos — como lembra Daniela — eram os mais cotados para liderar a área, hoje os administradores de empresas — e entram aí também os engenheiros — são os preferidos. 

Mudança de perfil
Segundo o último levantamento feito pela Fundação Instituto de Administração (FIA) na pesquisa que dá origem ao Guia VOCÊ S/A — As Melhores Empresas para Você Trabalhar, 24,7% dos líderes de RH são administradores de empresas. Em segundo lugar, aparecem os psicólogos e em terceiro — e crescendo — os engenheiros. 
Na relação dos 22 vencedores do Prêmio VOCÊ RH — Profissional do Ano (13 homens e nove mulheres), por exemplo, a maioria (sete profissionais) graduou-se também em administração de empresas. Apenas cinco fizeram psicologia — todas mulheres. 
Rodrigo Saez, diretor de recursos humanos da Lenovo Brasil, que construiu toda a carreira em RH e acompanhou de perto essa transformação, acredita que a busca por uma nova formação de profissionais para assumir o RH é consequência da nova função que vem sendo exigida da área.
Antes mais focado na relação humana, hoje o líder de RH precisa saber ler um planejamento estratégico e traduzir pessoas em números. “Há 15 anos, éramos um departamento de pessoal que pagava férias e salário e cuidava do desligamento das pessoas”, afirma Saez.
“Hoje, definimos métricas para avaliar resultados e pagar os profissionais por meritocracia, desenvolvemos competências e habilidades e fazemos a conexão de tudo isso com o entendimento do negócio.”   

Nós trouxemos gente de negócios para cá e também colocamos pessoas de RH em outras posições”, diz Miri, da Whirlpool. Em sua área, os cargos de gerência e gerência-geral já são 54% ocupados por homens e 46% por mulheres. 

Área mais atraente
Há ainda uma terceira e recente razão para essa invasão masculina no RH. A partir do momento que a área de recursos humanos caminha para um lugar mais nobre nos corredores corporativos, ganha visibilidade e tem seu salário equivalente ao de outros setores, os homens também começam a se interessar mais por essa migração.
Antes, segundo Renata Wright, gerente de divisão de RH da Michael Page, a área de RH era considerada o patinho feio das estruturas organizacionais, e os homens mais ambiciosos fugiam para as linhas de negócio — que ofereciam mais status e pagavam mais.
“O público masculino sempre foi mais arrojado e ambicioso, e, por isso, a área acabava ficando com mais mulheres”, diz ela. “Hoje, o RH passou a ser uma alternativa, e não apenas uma consequência na vida dos grandes executivos.” 
Tanto é verdade essa afirmação que — se antes — os executivos eram convidados a mudar de área, e muitos se sentiam até contrariados com essa proposta, hoje, há quem peça para ir para o RH. Miri, da Whirlpool, foi um deles.
Depois de quase três anos em suprimentos e uma carreira inteira em supply chain e logística, ele enxergou o RH como o melhor movimento de carreira. “Percebi que a gestão de pessoas influencia mais a entrega do que a eficiência técnica”, afirma. 
O mesmo raciocínio teve Souza, da Gol, que não caiu de paraquedas na área. Ele já tinha acumulado experiência em fábricas da Ambev e negócios do Itaú Unibanco quando foi para a Gol montar uma diretoria de serviços compartilhados. Logo sinalizou para a companhia que gostaria de assumir o RH.
Engenheiro de produção e com indicadores na veia, seu sinal era mais do que a empresa esperava. “Eles já queriam alguém que não tivesse carreira tradicional na área, com visão e experiência em gestão de negócios”, diz Souza. Um ano depois, portanto, chegou o convite. 

Linguagem de negócio
Apesar de a migração de homens de negócio para o RH ser uma tendência, isso não quer dizer que profissionais oriundos da área estão fadados a estacionar na carreira — sem assumir o topo da área.
Aqueles que estão começando em RH e desejam trilhar esse caminho devem saber, no entanto, que o perfil desse profissional mudou, e, se não passava pela cabeça ter de discutir processos, números e estatísticas, é melhor repensar sua trajetória. Os que já estão no meio do caminho também podem planejar o futuro na área — desde que, claro, aprendam a língua que todos estão falando hoje: a do negócio.

Notícia 2: Os salários dos profissionais de RH estão subindo
 

 
De acordo com a pesquisa anual realizada pela consultoria Deloitte, a remuneração do RH em geral mais do que dobrou nos últimos dois anos. De 2012 a 2013, apenas o salário do diretor de RH cresceu 18%.
Mas, afinal, quanto ganha cada funcionário da área que cuida da gestão de pessoas? E qual a carreira financeiramente mais promissora dentro do RH?
Para responder a essas perguntas, VOCÊ RH realizou, em parceria com a Deloitte, uma pesquisa que mapeou a remuneração de 18 cargos da área de recursos humanos — de analista a vice-presidente. Fizeram parte da análise 118 empresas, de dez setores da economia, sendo 64% delas com faturamento acima de 200 milhões de reais.
Das companhias participantes, 42% têm um líder de RH com o cargo de vice-presidente ou diretor (em inglês, conhecido como CHRO). “Cada vez mais o gestor de pessoas tem subido um nível: quem era gerente virou diretor, e o diretor subiu a vice-presidente”, diz Roberta Rebouças Yoshida, diretora da área de consultoria e gestão de capital humano da Deloitte.
Para ela, esse é o primeiro indicador de que os empresários veem o RH hoje como uma área relevante — e não mais uma área de suporte, como costumou ser descrita por muito tempo.
Outro indicador é o número de vagas abertas no mercado. De acordo com Luiz Carlos Cabrera, sócio da Amrop Panelli Motta Cabrera, consultoria especializada em busca de executivos de alto escalão, existem atualmente 15 vagas em grandes corporações esperando um profissional experiente de recursos humanos.
 
Nessas grandes companhias, onde o básico da gestão de pessoas já foi feito, o desafio do profissional é “maximizar a estrutura que a empresa tem disponível”, diz Marcelo Cuellar, headhunter da Michael Page.

Para dar conta dessa tarefa, o executivo de RH começa a redesenhar sua área, deixando-a mais robusta e estruturada. Os cargos generalistas começam a dar espaço a organogramas complexos, compostos de um CHRO, seguido por especialistas em recrutamento e seleção, remuneração e benefícios, e treinamento e desenvolvimento, além de consultores internos (os chamados business partners) e centros de serviços. E não são apenas as grandes empresas que estão revirando suas estruturas. 
Nas companhias de médio porte, nas quais o cargo máximo da área de gestão de pessoas era de gerente de RH, o CHRO já começa a aparecer. Fenômeno similar vem acontecendo nas empresas familiares e nos negócios embrionários.
Se antes essas companhias mal contavam com uma área de RH, hoje estão contratando alguém para criar ou profissionalizar a gestão de pessoas. “As startups, assim como as companhias familiares e de pequeno e médio porte, são as grandes contratantes de profissionais de RH”, diz Bernardo Cavour, da Flow Executive Finders . 
Por causa desse movimento do mercado, os cargos generalistas ainda são maioria nas áreas de gestão de pessoas — na pesquisa VOCÊ RH-Deloitte, os gerentes de RH estão presentes em 75% das companhias, com salários que podem variar mais de 20 000 reais.
A remuneração dos diferentes cargos de RH também varia conforme o setor e a função. O setor farmacêutico apresenta níveis salariais elevados, e as funções de treinamento e desenvolvimento são mais valorizadas nas siderúrgicas e nas empresas de serviços, nas quais as práticas de treinamento são mais necessárias.
Muito procurado por um universo maior de empresas, o profissional de RH passou a ser mais valorizado. Para os especialistas, esse novo cenário pode influenciar a trajetória dos jovens que estão saindo das universidades e mudar a imagem negativa que a área carregou durante anos.