quinta-feira, 27 de junho de 2013

As Lentilhas

Esta é uma das histórias mais comentadas e populares nos departamentos de Recursos Humanos. Chama a atenção pela sua simplicidade e pela profunda verdade que se esconde nas entrelinhas.

   "Uma grande multinacional levou a cabo um processo de seleção para contratar um funcionário para um alto cargo executivo. Depois de testes e entrevistas, e mais testes e entrevistas, e ainda outra entrevista, escolheram um dos candidatos. 
Fonte da imagem:
http://planetasustentavel.abril.com.br
   Para comemorar, e antes de assinar o contrato, o presidente da empresa convidou para almoçar aquele que, pela altura da sobremesa, seria o novo diretor. Ambos decidiram escolher o prato especial do chef, uma receita à base de lentilhas. Quando o empregado lhes trouxe o prato, o ainda candidato o braço para chamar a atenção do empregado e pediu: 
   - Por favor, traga-me um pouco de sal.
   - O presidente olhou para ele e disse-lhe, admirado: 
   - Mas ainda não as provou.
   - Gosto delas mais salgadas. 
   - O presidente não disse mais nada. Levantou-se e despediu-se, dizendo: 
   - Desculpe tê-lo feito perder o seu tempo, mas creio que nos enganámos a seu respeito. É melhor não assinarmos o contrato."

Na prática, o presidente pensou que, se o seu futuro diretor tomava decisões de forma tão leviana como fez com o prato de lentilhas, não iria ser um bom líder. Não serviria para dirigir coisa nenhuma! 
O candidato sobrepõe os seus preconceitos e os seus gostos pessoais aos profissionalismo dos outros. Provavelmente, se o chef estivesse sentado com eles, se ofenderia com razão. Ninguém gosta que alterem aquilo que fazemos antes de nos darem uma oportunidade. Devemos ter uma atitude de respeito perante o trabalho dos outros. E avaliar aquilo que vamos alterar é realmente necessário ou se obedece apenas a caprichos ou gostos pessoais. E mais, descartou por completo a possibilidade de que as lentilhas estivessem já salgadas. Não pensa antes de agir. 
Poder-se-ia pensar que o presidente da multinacional exagera ao deitar por terra todo o trabalho do departamento de recursos humanos. Não é verdade! Os testes e as entrevistas por vezes enganam - não são um espelho de uma pessoa. Há pessoas que são verdadeiros profissionais a superar com sucesso este tipo de provas. A vida real, as atitudes que vêm ao de cima quando estamos descontraídos, são muito mais fiáveis do que testes. Revelam aspetos da personalidade. Dão informações muito valiosas para todos aqueles que os sabem interpretar. Porque somos apanhados de surpresa. E não há dúvida de que o candidato teve uma grande surpresa naquele almoço.

Nota adicional:
Na JP Morgan é comum fazerem o "Teste do aeroporto de Frankfurt", que não é nada mais do que um “role-play“, destinado a apurar o grau de sociabilização dos candidatos: no final de uma reunião na Alemanha, dirige-se com vários outros executivos ao aeroporto, para regressar a casa. Está um grande nevão e os voos estão atrasados. O que é que faz? Inventa uma desculpa e vai fazer compras para o free-shop ou convida os outros para tomar um café e ficarem-se a conhecer melhor? Este teste é feito para apurar algo que não é revelado pelos CV em análise (todos eles muito bons, dado que as condições prévias de admissão são muito exigentes): Como é que são estas pessoas em contexto de trabalho? Como dizia um executivos da JP Morgan, “eu quero é trabalhar com tipos porreiros, que tenham iniciativa, que não sejam conflituosos, que tenham a capacidade para trabalharem para um objectivo comum”. Há que dar autonomia às pessoas: “Se colocarmos vedações à volta dos colaboradores, eles transformam-se em ovelhas” (William Mcnight – CEO da 3 M)