segunda-feira, 15 de julho de 2013

Eficácia da Formação


Turistas: Pessoas que vão a cursos de formação e conferências apenas para fugir ao trabalho.”
In Dilbert´s New Work Words.

Vivemos numa época em que se colocam permanentemente dúvidas em relação à eficácia da formação. Para além das própria empresas porem em causa os resultados alcançados com a formação que prestam aos seus trabalhadores, há uma enorme dificuldade em conseguir uma total adesão efetiva dos adultos à formação: a formação é ainda entendida pelo adulto como uma obrigação ou como uma forma de passar o tempo. Estas constatações põem em causa todos os fundamentos que sustentam os princípios básicos de uma formação contínua de adultos e criam um ciclo vicioso: quanto mais resistência há da parte dos formandos, menores são os resultados; quanto menores os resultados mais as empresas encaram a formação mais como um custo do que como um investimento – e os custos têm de ser minorados.
Agora, o que não podemos, de forma, alguma colocar de parte é que a maior parte dos processos de mudança nas organizações envolve intervenções focalizadas na formação dos seus trabalhadores – dado que são estes o factor fundamental para o sucesso organizacional. A atestar isso mesmo está o facto de, nas últimas décadas, terem aumentado de forma exponencial os recursos financeiros investidos pelas organizações na formação profissional dos seus membros. A expansão generalizada da formação a que se tem assistido nos últimos vinte anos está associada ao pressuposto de que esta vai melhorar o desempenho dos trabalhadores e, por conseguinte, vai contribuir para melhorar a actividade das organizações. No entanto, esta convicção tem de ser sustentada por critérios de eficiência económica. De facto, a avaliação de intervenções - incluindo da formação - tem vindo a assumir grande importância no quadro do desenvolvimento dos recursos humanos, na medida em que os níveis de competitividade actual têm vindo a intensificar a pressão para que se demonstre de que forma essas intervenções contribuem directamente para o desenvolvimento das organizações.

Fonte da imagem:
http://cascatadenumeros.com
Para além de algumas questões complementares que envolvem esta problemática - e que podem pôr em causa a efetividade dos modelos de deteção de necessidades de formação, pela deficiente inserção de projetos de formação nos sistemas organizacionais e educacionais que a comportam -  sou da opinião que muito do insucesso da formação de adultos poderá ter a ver com a inadequada elaboração dos planos de formação e com a metodologia de formação (nomeadamente em sala – um problema que assume ainda maior dimensão quando falamos da formação de adultos).

O adulto necessita ter um papel activo no seu processo de formação, exigindo que este processo seja pouco fastidioso, agradável, que o estimule e o faça aderir à mudança. A formação deve ter como fator primordial aumentar o “valor de mercado” do adulto - o que, à partida, gerará mais e melhor emprego: (1) “mais emprego” porque mais massa-crítica gerará mais criação de valor, maior crescimento económico e, consequentemente, mais empresas; (2) “melhor emprego” porque mais empresas gerarão maior concorrência e melhores salários para trabalhadores diferenciados. O que conduzirá a uma cada vez maior paridade entre as partes (empresa e trabalhador) e ao consequente desaparecimento do pressuposto que legitima o princípio favor laboratoris: a desigualdade entre as partes. É que, como dizia Peter Drucker, “a educação faz com que as pessoas sejam fáceis de guiar, mas difíceis de arrastar; fáceis de governar, mas impossíveis de escravizar“.

Nas atuais sociedades do conhecimento, a formação é uma necessidade e uma condição de capacidade competitiva, tanto para os indivíduos como para as organizações. Sem formação, os indivíduos perdem capacidade de empregabilidade. Sem investimento em formação, as organizações perdem capacidade para lidarem com as mudanças. Para elas, a formação deve ser interpretada como um investimento, mais do que como um custo (embora, evidentemente, a análise custo-benefício e uma boa gestão dos recursos de formação sejam fundamentais).

Vivemos numa época de paradoxos: por um lado, vivemos numa época extraordinária, em que a mudança acontece todos os dias, em que o conhecimento humano permanentemente nos surpreende; mas, simultaneamente, somos tolhidos pelos medos a ele associados: os recursos limitados do Planeta colocam grandíssimos desafios à nossa imaginação e conhecimento. Mas uma coisa é certa: devemos olhar para o futuro com optimismo e responsabilidade. Este futuro depende da capacidade das organizações de ultrapassar estes medos - pela inteligência e pela capacidade de nos organizarmos de forma efeciente, nas múltiplas organizações que compõem a nossa sociedade. E nestes desafios o sistema educativo e formativo é um elemento crucial em que, desde a fase de Diagnóstico até ao processo de Avaliação da Formação, tudo deve ser pensado e estruturado de forma integrada e coerente.