segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

O Tolo que era Sábio

Artigo redigido por Davide Gouveia*    
DG72|2007-13|14

Mulla Nasrudin (Khawajah Nasr Al-Din) viveu no século XIV. Contou e escreveu histórias onde ele próprio era personagem. São histórias que atravessaram fronteiras desde sua época, enraizando-se em várias culturas. Elas compõem um imenso conjunto que integra a chamada Tradição Sufi, ou o Sufismo, seita religiosa de antiga tradição persa e que se espalha pelo mundo até hoje. 

Uma das histórias que mais gosto, e que muitos garantem que é verdade, que, há muitos anos, numa aldeia pacata, a única diversão era rir de uma estranha personagem chamada Nasrudin. Todos garantiam que não existia em todo o mundo uma pessoa tão idiota e tão pouco inteligente como ele. 

VEJAMOS: 

Todos os dias o Mullah Nasrudin ia esmolar na feira, e as pessoas adoravam vê-lo fazendo o papel de tolo, com o seguinte truque: mostravam duas moedas, uma valendo dez vezes mais que a outra. Nasrudin sempre escolhia a menor. A história correu pelo condado. Dia após dia, grupos de homens e mulheres mostravam as duas moedas, e Nasrudin sempre ficava com a menor. Até que apareceu um senhor generoso, cansado de ver Nasrudin sendo ridicularizado daquela maneira. Chamando-o a um canto da praça, disse:
- Sempre que lhe oferecerem duas moedas, escolha a maior. Assim terá mais dinheiro e não será considerado idiota pelos outros. 
- O senhor parece ter razão, mas se eu escolher a moeda maior, as pessoas vão deixar de me oferecer dinheiro, para provar que sou mais idiota que elas. Isso seria uma estupidez, não lhe parece? O senhor não sabe quanto dinheiro já ganhei, usando este truque. Não há nada de errado em se passar por tolo, se na verdade o que você está fazendo é inteligente. Às vezes, é de muita sabedoria se passar por tolo e é muito melhor passar por tolo e ser inteligente do que ter inteligência e usar fazendo tolices

"Os sábios não dizem o que sabem, os tolos não sabem o que dizem!" 

Conclusão:

Esta é para mim uma das grandes mensagens da história: toda a gente tem sempre algo para nos ensinar, mesmo que, aparentemente, seja um perfeito idiota. Mas, nas relações empresariais, onde, de vez em quando, se travam batalhas, devemos ter consciência de que muitos daqueles que se fazem de idiotas não o são, e de que se aproveitam dessa imagem que projetam precisamente como estratégia. 

Existem muitos exemplos que nos convidam a ser cautelosos. Em A Arte da Guerra de Sun Tzu, aprendemos que não devemos mostrar as nossas verdadeiras armas ao inimigo. Se somos rápidos, devemos aparentar ser coxos, se somos ágeis, aparentar ser lentos. E, se somos superiores em número, devemos aparentar escassez de efetivos. Deste modo, poderemos aproveitar o fator surpresa e, depois, ser mais velozes, mais ágeis e mais numerosos que os nossos adversários. 

Nasrudin também nos ensina que devemos tentar ser suficientemente inteligentes para calcular os ganhos das nossas ações. É importante não que nos deixemos cegar pelos benefícios a curto prazo; devemos ser capazes de ver e de calcular a longo prazo. Na verdade, Nasrudin não escolhia sempre a moeda mais valiosa? Não seria a menor que o beneficiava mais? Não devemos confundir valor com benefício, nem benefício com ganho. 

Em suma: Um dos maiores prazeres que um homem inteligente pode ter é aparentar ser idiota perante aqueles idiotas que aparentam ser inteligentes. 

Como disse Hans Christian Andersen: "Os contos servem para adormecer as crianças e para despertar os adultos.”

* Manager do Blogue desde Outubro de 2007. 

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Notícias GP 2014_Parte 5

Notícia 1:A Azia Portuguesa em Relação aos Alemães

“A azia portuguesa em relação aos alemães (devido à intervenção da Troika em Portugal)  fortaleceu-se durante a crise. Mas olha-se para a Autoeuropa e constata-se o perigo das generalizações: a empresa liderada por António Melo Pires e a comissão de trabalhadores dirigida por António Chora são um exemplo de que patrões e empregados se podem entender com benefícios mútuosSegundo os mais recentes dados da ACAP, a produção em Palmela cresceu 12,6% nos primeiros nove meses de 2014 face ao período homólogo. Até Setembro, foram produzidos 77.762 veículos. Em contrapartida, empresa e trabalhadores acordaram agora  a entrada de 400 trabalhadores precários para os quados da empresa e o aumento de 2% nos salários no próximo ano. A vitória dos trabalhadores foi conseguida graças aos níveis de produtividade que permitem à Autoeuropa usar o critério da justa recompensa.

Mais pormenores


Notícia 2: No seguimento do artigo “a morte do CV”
O site de networking corporativo LinkedIn divulgou um lucro líquido e receita trimestrais melhores que o esperado, com mais empresas utilizando seus serviços para contratar pessoal. O negócio de contratação da companhia tem prosperado enquanto empregadores notam que seus serviços são mais úteis na avaliação de um candidato para um posto.” 

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Qual é o meu propósito na vida


Artigo redigido por António Machado Vaz*   
AMV16|2013-14 


Alex Atala é a coqueluche dos "chefs" brasileiros. O líder do D.O.M. – restaurante de S. Paulo que é atualmente considerado o 6° melhor restaurante do mundo pelo S. Pellegrino World´s 50 Best Restaurantsdiz que, ao longo da sua carreira, estagiou com diversos "chefs" franceses. E todos lhe diziam a mesma coisa:

'Alex, você nunca vai fazer “nouvelle cousine” como um “chef” francês. Faça cozinha brasileira. Você é bom nisso. E nenhum “chef” francês alguma vez vai ser tão bom como você'

Esta é uma verdade tão simples quanto importante: se queremos ter um impacto no mundo temos de seguir o nosso próprio caminho - e não aquele que funcionou para os outros.

Miguel Pina e Cunha vê em Alex Atala um optimo exemplo disso mesmo: “Alex Atala é um extraordinário "chef" brasileiro, mas nunca poderá ser um extraordinário "chef" francês – simplesmente porque não é francês. Dito deste modo, parece óbvio, mas quantos "chefs" (ou chefes) portugueses querem ser extraordinários "chefs" franceses (ou americanos, ou réplicas do patrão)? O caminho da liderança eficaz tem pois de ser o da autenticidade: usar as nossas forças e expandi-las para sermos melhores naquilo que somos, sem querer ser aquilo que não somos. Ser autêntico é ser a mesma pessoa domingo e segunda-feira.

Ser autêntico e movido por um propósito pessoal claro são os caminhos para a diferença. Os líderes que marcam são aqueles que fazem a diferença e que a fazem baseando-se nas suas forças – não na neutralização das fraquezas pessoais.”

Na edição de maio passado da Harvard Business Review, Craig e Snook tratam precisamente da importância do propósito[1]. Naquele texto defendem que a função mais importante de um executivo é definir e proteger o propósito da sua organização. E que uma organização cujos líderes são capazes de definir o seu propósito pessoal é uma organização mais completa e dotada de maior clareza: com pessoas que sabem para onde vão.

Craig e Snook definem o propósito de um líder como "quem se é e aquilo que nos torna distintivos". E estabelecem que o propósito é mais poderoso se se focar nas forças de cada um.

Peter Drucker e Andrew Grove diziam precisamente o mesmo: um gestor é alguém que transfere recursos de áreas onde estes têm baixa produtividade para outras áreas onde os mesmissimos recursos obtêm uma produtividade elevada. Nos RH (staffing) isso significa mudar as pessoas de funções onde as suas fraquezas contam, para outras funções em que essas fraquezas passam a ser irrelevantes e o que conta passa a ser apenas as áreas onde elas são realmente boas. São as forças (não as fraquezas), as habilidades (não as deficiências) que contam. Por isso é que é importante começar por avaliar os factores que determinam o sucesso de determinadas funções: para depois alocar as pessoas mais competentes para essas funções[2]

* Colaborador nas publicações do Blogue desde Outubro de 2013.



[1] Craig, N. & Snook, S. (2014). From purpose to impact. Harvard Business Review, May, 105-111.
[2] in “Shakespeare, Henry V and the Lessons for Management” (Jorge Vasconcelos e Sá).

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Sistema de gestão do desempenho: mito, panaceia, fracasso? ou motor da criação de valor

(Resumo do seminário apresentado no dia 7 de Outubro de 2014, na UCP-Braga, pelo professor Carlos Ribeiro[1])
 
Hoje em dia, quase nenhuma empresa que se preze deixa de ter um Sistema de gestão de desempenho. Mas porque implementam as empresas os seus sistemas de Gestão de desempenho? Por 3 razões:
1. Por acreditarem que esse sistema veio permitir melhorar a performance (individual e, dessa forma, também os resultados das equipas e para a empresa).
2. Por esperarem que o sistema oriente e acelere o desenvolvimento profissional dos colaboradores e, dessa forma, aumente a “capacidade instalada” das equipas e da empresa gerar valor.
3. Simplesmente porque consideram um sistema que, inequivocamente, deve estar presente em qualquer empresa bem gerida.

Depositou-se muitas esperanças nestes sistemas MAS, na maior parte das vezes, eles ficam à margem das espectativas. Porquê? Porque geralmente é encarado pelas empresas como um conjunto de rituais cíclicos, que pouco impacto têm ao nível do desempenho individual e dos resultados da empresa. Daí resumir-se a um simples dia de entrevistas (de preferência, até, apenas uma tarde - para não prejudicar a produtividade).[2]

Segundo o Prof. Carlos Ribeiro, “o impacto dos sistemas de Gestão de desempenho não é apenas nulo. É negativo!É crítico analisar o impacto real que esse sistema está a ter. E isto porque, em mais de 85% das empresas, após a atribuição dos prémios, nota-se uma desmotivação generalizada dos trabalhadores / um descomprometimento entre as pessoas e as empresas[3] - o que vai frontalmente contra a espectativa das empresas (que acham que os sistemas de Gestão de desempenho melhoram o comportamento dos trabalhadores). Não é raro as empresas investirem montantes muito significativos em prémios de desempenho...e obterem como retorno, apenas, agitação social, descontentamento, desmotivação... é, no mínimo paradoxal... e espantoso que assim continue ano após ano!

É frequente as empresas confundirem:
· Classificação de desempenho: definir o nível que o trabalhador atingiu num conjunto de parâmetros, utilizando-o depois para atribuir uma compensação variável.
Nota: Isto não garante melhoria.
· Avaliação de desempenho: Quando, para além do de cima, tratamos também de informar os objectivos pretendidos;
 ·Gestão de desempenho: Quando, para além do de cima, tratamos também de planificar o que se espera de cada pessoa.

Geralmente, os colaboradores acreditam que a avaliação de desempenho é um pró-forma anual (um processo burocrático). Os prémios são os que “eles” querem dar… e os resultados são “martelados” para justificarem a sua atribuição.
Se é nisto que eu acredito, como é que a avaliação de desempenho me vai ajudar a melhorar no futuro?!
Por sua vez, os gestores (sup. hierarq.) apenas se preocupam com a avaliação de desempenho 1 ou 2 vezes por ano. Querem despachar as entrevistas todas numa tarde. Queixam-se que é um processo burocrático, que não serve pra nada e que é uma perda de tempo (quando têm tanto pra fazer!...)

É essencial ousar implementar as alterações que se revelam necessárias para que seja – como pode ser – um verdadeiro motor de criação de valor das nossas empresas, de uma forma sustentada (e não apenas “uma vez por ano”). Como mudar para uma situação em que a avaliação de desempenho seja um catalisador para melhorar a performance?
Possivel é! Mas apenas quando conseguirmos que a
1. Gestão de desempenho esteja presente no day-to-day leadership;
2. Equipa tem de interiorizar como um processo transformacional orientado para a maximização dos seus resultados;
3. Existe uma equação líder/equipa devidamente equilibrada e funcional[4]

Temos de garantir que
· Cada equipa dá o delivery que a empresa precisa para a persecução dos seus objectivos;
· Cada pessoa dá o contributo necessário para a equipa atingir os seus próprios objectivos e para a empresa desenvolver a cultura que pretende.

A Gestão de desempenho influência:
· O funcionamento e os resultados das equipas;
· O contributo, o comportamento e as atitudes das pessoas;
de forma a criar valor… de forma sustentada!

Quando bem utilizada permite:
·  Alinhamento
·  Eficiência de recursos e esforços face aos resultados
·  Aproveitar o potencial dos colaboradores e acelerar o seu desenvolvimento
·  Gerar equipas de alto-rendimento

A sua eficácia depende dos elementos estruturais e práticas de Gestão:

Elementos estruturais:
1. Árvore de contributos – definidos em cascata: qual o contributo que esta equipa tem de dar para que a organização como um todo possa dar o que pode dar?

2. Matriz de conhecimento operacional – saber como se cria valor. Temos de ter indicadores mas temos de depois ter formas de intervenção (de corrigir a performance)[5]. Que variáveis afectam cada indicador? O que podemos fazer para gerir cada variável?

3. Definição de processos e funções – o que é que cada um faz e como? A definição de funções não pode ser feita de forma atomística. Não pode ser isolada. Temos de perceber como é que umas se interligam com as outras e manter sempre presente o que se pretende com o resultado final: o processo tem de ser focado no cliente.[6]
- Como vamos prestar esse serviço? (processo tem de ser eficiente)
- Cada função tem de ser vista como uma unidade de contributo para o resultado final.

4.  Definição de competências:
- Instrumentais (performance)
- Estratégicos (valores e formas de estar que são valorizados na empresa).

Práticas de Gestão:
1. Estabelecimento de objectivos – Costuma-se dizer que os objectivos devem ser SMART. Mas não chega. Também têm de ser:
· integrados verticalmente (caso contrário, desfocalizamo-nos do resultado pretendido)
·  calibrados (têm de ser possíveis de atingir)
·  incentivar o comprometimento (não pode ser aceites apenas pelo líder. A equipa tem de estar envolvida)

2. Planeamento – “o que posso fazer para que os resultados aconteçam?” Esta questão deveria ser colocada aos gestores. Como não é, estes dedicam-se a arranjar justificações para não terem atingido o resultado. Isto não cria valor! Mas é a estratégia adoptado pela maior parte dos gestores.

3.  Monitorização de resultados Principal questão não é “o que é que eu tenho de medir” mas sim “que problema é que eu tenho de resolver” e depois “como é que eu posso medir o progresso nesse problema”. Isso é feito através de indicadores de desempenho (KPIs). Costuma-se dizer que os KPIs são como cockpit de um avião. O piloto tem um manancial de indicadores mas está especialmente atento a 2 ou 3 considerados críticos. Mas isso não quer dizer que não esteja atento aos outros indicadores. Os indicadores permitem identificar desvios e definir o que vai ser feito para os corrigir (caso contrário não é controlo; é autopsia). Mas depois é preciso obter feedback responsabilizante (na fase das entrevistas)

4. Entrevista de avaliação de desempenho – Segundo o Porf., “tenho muitas dúvidas que as pessoas sejam capazes de avaliar objectivamente o seu desempenho”. Logo, o objectivo da entrevista não é/ não pode ser discutir a avaliação – mas antes dar feed-back responsabilizante. Para tanto, deve-se utilizar dados objectivos (factos e números) apenas para sustentar as conclusões da avaliação (caso contrário, corremos o risco de acabar a discutir “a personalidade do colaborador” e desviarmo-nos do objectivo da entrevista). O objectivo é melhorar a performance do colaborador no período seguinte. Não se trata de censurar nem de encontrar desculpas. A troca de impressões deve ser orientada para a resolução de problemas e para compreender por que razão determinados objectivos foram ou não alcançado. Porquê? Porque a experiencia, só por si, não ensina nada. É preciso ajudar a retirar conclusões e ensinamentos - para que, da próxima, o trabalhador possa agir de forma mais eficiente e eficaz.
As pessoas são avessas à crítica. O escritor inglês Somerset Maugham dizia: People ask you for criticism, but they only want praise”. Criticar sem ofender é uma das artes mais difíceis do mundo. Para evitar que as pessoas se ponham na defensiva, geralmente, usa-se a “técnica da sandwich[7], “para acabarmos todos amigos”. Isso é ASNEIRA! Não posso criticar e depois acabar a entrevista transmitindo a ideia que “afinal está tudo bem!”. A interpretação da realidade é feita assimilando blocos de informação, pelo que – se agirmos de um modo dúbio – corremos o risco de o colaborador acabar por registar apenas a “parte final do bloco”. O objectivo é que o trabalhador, ao sair da entrevista, saiba onde como e quando vai adoptar acções de melhoria. Temos de terminar com “então, como é que vamos melhorar/alterar o desempenho? Como e quando?” Temos de incentivar à acção.[8] Isso é mais fácil se o colaborador e o responsável tiverem estabelecido de comum acordo as acções a tomar.

5. Prémios/incentivos – O que é que se pretende com o prémio? Fazer um ajuste de contas com o passado ou criar motivação para o futuro? Como o vou configurar? Não posso permitir que se gerem sentimentos de injustiça e descomprometimento.

CONCLUSÃO: Não podemos esquecer que a gestão de desempenho é um instrumento – ou seja, tem de estar ao serviço das chefias mas também tem de ser utilizado de forma eficaz por parte das chefias.
Porquê? Porque a gestão de desempenho permite sistematizar a atuação ao nível do estabelecimento da equação transformacional da equipa e da prossecução da concretização das transformações e otimizações pretendidas
Por isso é que a liderança tem de se sustentar na informação do sistema de av. de desempenho (não se pode liderar APESAR do sistema de av. de desempenho).
Mas para garantir a concretização da equação transformacional da equipa não basta ter o líder envolvido e empenhado... As pessoas têm de ser convidadas a pensar, a participar activamente (não se pode limitar a uma entrevista para justificar um prémio).


[1] Licenciado em Psicologia, Carlos Ribeiro é partner, coordenador técnico de projetos e formador/executive coach na Performance and Development (ligado ao comportamnto organizacional). É docente da Católica Porto Business School, foi docente do Instituto Superior de Gestão e consultor do Banco Mundial e da Unesco. Desempenhou ainda funções de coordenação na William Mercer e de direção na Área Chave. Freelancer, liderou projetos de gestão em empresas de transportes e de comunicações. Foi quadro no Instituto de Formação Bancária (Associação Portuguesa de Bancos).
[2] Muitas vezes as entrevistas são decalcadas umas das outras.
[3] Há um estudo que sustenta isto.
[4] Temos de optimizar a liderança
[5] Se não, não é analise; é autopsia.
[6] Sam Walt (fundador da famosa cadeia WalMart) dizia: “Só existe um patrão. Chama-se Cliente e pode despedir todas as pessoas dentro de uma empresa. Como? Indo comprar à concorrência”. Como tal, a forma de evitar que a organização se torne escrava dos processos burocráticos é ter sempre em vista os interesses do cliente – sendo que, muitas vezes, o “cliente” de um departamento é outro departamento da empresa: o chamado “cliente-interno”.
[7] Começa por se elogiar os pontos positivos, passa-se para a crítica propriamente dita e acaba-se novamente, com elogios.
[8] Processos nmésicos e de indução de melhoria

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Ser Líder em Tempo de Crise

Artigo redigido por Davide Gouveia*    
DG70|2007-13|14

Por definição, líderes conduzem mudanças. Quando a vida está em ordem, as tarefas são previsíveis e quase tudo estão indo bem, as pessoas não querem nem precisam de muita liderança. Quando estão satisfeitas e seguras, querem o “statu quo”. Pessoas satisfeitas não se encontram em um estado psicológico de necessidade que as conduza a adotar um líder e buscar mudanças. Nestas circunstâncias, elas querem uma liderança em tempo de paz ou, mais precisamente, gerência em tempo de paz. Tempo “de paz” e “de guerra” não se refere neste contexto a conflito, mas, pelo contrário, à diferença entre condições nas quais os acontecimentos são previsíveis de forma razoável, com certo senso de conforto e controle, e aquelas em que pouco se pode prever com certeza, onde há pouco conforto ou senso de controle. Muitas organizações, mas sobretudo as de negócio, deixaram as condições de paz para as de guerra desde o princípio da década de 80.

Tempos de paz não possuem crise nem caos, de modo que nenhuma mudança maior é necessária. Ao contrário, as pessoas estão contentes com o que já existe e a mudança envolve uma sacudidela em um sistema existente no intuito de lentamente melhorá-lo. A gerência em tempo de paz consiste de modificações graduais do que já existe, sem maiores rupturas e, portanto sem maiores conseqüências emocionais. Sem o senso de emergência ou urgência, os líderes não precisam ser especiais e não precisam gerar adeptos emocionais. Eles são apenas pessoas que ocupam posições de poder. Qualquer um nestas posições é visto como um líder independente do que faz, pois não há muito a fazer. E está tudo bem para os seguidores enquanto a vida permanecer confortável e em ordem. (isto explica o conflito comum entre aqueles que querem conduzir outros para a mudança maior como se fosse tempo de guerra e aqueles que se recusam a se tornarem seguidores, insistindo que ainda é tempo de paz.).

Encontramos cada vez menos circunstâncias as quais os gerentes em tempo de paz podem ser bem sucedidos pois, em termos gerais, as condições de tempo de paz acabaram. Nesta era de globalização, “o perigo na zona de conforto” foi substituído pela necessidade de encontrar conforto no interminável perigo. Deixe-me ilustrar o que está mudando com um breve episódio. A importância desta história ainda hoje reside em seu caráter usual.
 
O mundo mudou e a mudança veio para ficar. De forma crescente, a zona de conforto está sendo substituída pelo perigo interminável. Por sua vez, os gerentes em período de paz, pessoas mais satisfeitas em condições estáticas, terão de aprender a se tornar líderes em período de guerra, pessoas que abraçam uma mudança maior porque vêem muito mais oportunidades do que ameaças na turbulência. Infelizmente, muitos gerentes voltados para o tempo de paz terão de ser substituídos por não perceberem isso. As condições do período de paz não facilitam a geração de lideres para tempos de guerra. Na paz, as pessoas não têm oportunidade de melhorar suas aptidões de modo a não temerem a mudança e fazerem a escolha certa, embora difícil.

A necessidade emocional, ou a busca por líderes, resulta das condições de mudança, crise e urgência que chamo de tempo de guerra. Na perturbação das condições do tempo de guerra, quando o mundo está assustado e o futuro é incerto, quando as pessoas experimentam o medo, o terror, os maus presságios e o cansaço extremo, elas necessitam emocionalmente de um líder, alguém em quem possam confiar e com quem queiram assumir um compromisso emocional. Os líderes despertam associações emocionais nos seguidores somente até onde estes estão emocionalmente necessitados.
 
O que fazem os líderes do tempo de guerra[1]

Observando as organizações que lutam com as turbulentas transições de hoje, identifico seis coisas a serem feitas pelos líderes que parecem especialmente críticas para criar um senso de forte liderança e alcançar o sucesso. Os líderes devem (1) definir o negócio da empresa, (2) criar uma estratégia de liderança, (3) comunicar-se de forma persuasiva, (4) comportar-se de modo íntegro, (5) respeitar os outros e (6) agir.

1- Definir o negócio da empresa
A questão mais importante em qualquer organização precisa ser, “qual o negócio de nossa empresa?” A resposta determina o que a empresa deve – e não deve – fazer. Em economias sem fronteiras e de rápidas mudanças, a questão deve ser revisitada com freqüência porque a resposta pode mudar rapidamente. Determinar o negócio da empresa é o primeiro passo na definição das prioridades, os esforços se dispersam e pouco é alcançado. Os melhores dirigentes direcionam o foco da organização e se envolvem apenas em assuntos mais importantes. Na competição em tempo de guerra, os líderes devem aproveitar com habilidade o senso natural de urgência que se manifesta pelas ameaças externas e usá-lo para reforçar, de forma contínua, o foco imperativo em fazer o que é importante. Cumprir a missão perante grandes disparidades, atingindo alvos distantes para o negócio da empresa – esta é a cola que mantém as pessoas unidas e compromissadas com o bem de todos.
A melhor liderança forma a missão e os valores da organização de um modo que os membros consideram transcendente: as metas da empresa, baseadas nos detritos do trabalho comum, são transformadas para metas mais elevadas, dignas de esforços heróicos e até sacrifícios. Um exemplo, relatado por Brian Dumaine em “Why do we work?” (Fortune, 26 de dezembro de 1994, p. 196) conta a diferença entre três pedreiros:
Na época de torres envoltas de nuvens, donzelas angustiadas e cavaleiros robustos, um rapaz caminhando por uma estrada, encontrou um trabalhador batendo furiosamente em uma pedra com um martelo e um cinzel. O jovem perguntou ao operário, que parecia frustrado e irritado, “o que você está fazendo?” Este respondeu com uma voz magoada: “estou tentando talhar esta pedra e isto é um trabalho aviltante”. O rapaz continuou sua jornada e logo encontrou outro homem talhando uma pedra semelhante, que não parecia zangado nem feliz. “O que você está fazendo?” Perguntou o jovem. “Estou talando uma pedra para um prédio”. O rapaz continuou a viagem e, logo depois, encontrou um terceiro trabalhador esculpindo uma pedra, mas este cantava feliz enquanto trabalhava. “O que você está fazendo?” Perguntou o jovem. O trabalhador sorriu e respondeu, “estou construindo uma catedral”.

2 - Criar uma estratégia vencedora
É responsabilidade da liderança criar uma estratégia que levará a organização a ser bem-sucedida, crescer, prosperar, vencer a competição. Em uma economia sem fronteiras, a pergunta “qual é nossa estratégia e quais as de nossos concorrentes?”, assim como “qual é a nossa atividade principal?”, devem ser levantadas e respondidas freqüentemente, pois a estratégia deve ter origem na realidade competitiva da empresa. Estratégia é conceitual; uma estratégia vencedora deve designar de forma precisa o que a organização fará melhor do que qualquer outra de modo a ser a opção do cliente.
Para que uma estratégia seja bem-sucedida ela deve prever, gerar e orientar a mudança e estabelecer compromisso com os membros da organização. Deve ser plausível, ágil, arrolada e realizável a ponto de gerar em si mesma uma convicção de que seja valioso assumi-la, mesmo que a jornada seja árdua, pois ela criou uma vantagem competitiva maior. Definir o negócio da empresa de modo sensato e sábio, e criar uma estratégia convincente para vencer, são ações criticas para persuadir as pessoas de que possuem líderes verdadeiros e de que o sucesso será alcançado.

3 - Comunicar de forma persuasiva
Os líderes sabem que a confiança é uma vantagem competitiva em um mundo de competição antagônica. Basicamente, confiança é uma questão de prognóstico. As pessoas confiam em outras quando estas lhes dizem que algo acontecerá e isto acontece. Mudanças maiores, portanto, sempre ameaçam a confiança e, deste modo, ameaçam definitivamente a confiança na liderança. Ausência de comunicação, ou uma comunicação ineficaz, sobretudo em tempo de guerra, resultam em um grande aumento da desconfiança, da confusão e do ceticismo, além de uma imensa queda do moral, da crença na organização e da segurança na liderança. Por isso, a necessidade de uma comunicação persuasiva é especialmente crítica em períodos de ameaças e mudanças significativas.
Durante períodos de grandes mudanças, muitas organizações emitem poucas comunicações porque querem evitar as conseqüências negativas que ocorrem quando as pessoas não sabem o que vai acontecer com elas. Mas, quando muitas mensagens são emitidas ou o grau de ansiedade é alto, pouco se resolve. Portanto as organizações devem limitar a quantidade de comunicações e simplificar as mensagens enviadas. Os líderes devem decidir que partes da informação as pessoas realmente precisam saber, e estes poucos pontos devem ser amplificados, declarados de modo mais simples e repetitivo do que se pode imaginar necessário. E quando as metas são reduzir a ansiedade e aumentar o compromisso com o líder e a missão, a comunicação mais eficaz é em pessoa, de maneira pessoal e sob a forma de diálogo.

4 - Comportar-se de modo íntegro
Sem integridade, a confiança jamais é obtida. Os melhores líderes são transparentes: eles fazem o que dizem; suas ações são coerentes com suas palavras. As pessoas acreditam neles porque agem em linha com os valores que adotam. Não fazem jogos maquiavélicos de manipulação e má-fé. Neste sentido são honestos.
Ser íntegro, acredtio, baseia-se em parte na coragem. Requer honestidade consigo mesmo, assim como os outros, quanto ao que é sinceramente valorizado e considerado importante. Comportar-se de modo íntegro também significa ser coerente com as próprias escolhas e ações. Além da coragem, os líderes devem ter alguma certeza quanto à direção a seguir e qual caminho escolher. Por sua vez, isto requer dos líderes uma firme convicção dos valores e propósito constante de distinguir entre certo e errado, sabedoria e tolice.

5 - Respeitar os outros
Os melhores líderes não prejudicam a mente das outras pessoas. Os líderes precisam de um senso essencial de confiança que lhes permita receber com tranqüilidade as idéias dos outros, mesmo discordante. Embora os melhores líderes sejam quase sempre notavelmente cultos, sobretudo quanto à situação geral, não são covardes nem Genghis Khan, humildes ou arrogantes. Como conseqüência, não acham que precisar das idéias dos outros seja aviltante. Líderes eficazes em tempo de guerra requerem idéias de todos os envolvidos; preferem um debate animado antes que decisões sejam tomadas, embora, uma vez decidido, exijam alinhamento. Eles exigem que os outros ajam com entusiasmo, em linha com a decisão, mesmo que antes tenham se oposto a ela.
Hoje em dia, subordinados em todos os níveis organizacionais possuem experiência, conhecimento e aptidões, as quais podem oferecer, se seus líderes estiverem psicologicamente preparados para ‘ouvir’. Ouvir os outros, assim como dar-lhes autonomia, não é questão de processo. Ao contrário, é uma questão de respeito.

6 - Agir
O gerente em tempo de paz é como um gerente de suprimentos: muito bom em planejamento e logística, tarefas às quais as pessoas se dedicam com afinco mais ninguém se machuca. Por outro lado, em tempo de guerra, os líderes precisam considerar a possibilidade de fazerem o intolerável. Liderança em tempo de guerra é difícil: ela envolve ações nas quais alguns podem se ferir e até morrer, para que o grupo como um todo viva. (‘Ferir’ e ‘morrer’, neste contexto, se referem a mudanças como dispensa de funcionários, downsizing, vender ou fechar unidades improdutivas e realizar fusões e aquisições). A liderança em tempo de guerra, portanto, requer força de caráter, autodisciplina, coragem e afastamento daquilo de que gerentes em tempo de paz fazem.
É função dos líderes inspirar confiança em pessoas atormentadas pela dúvida. Em tempo de guerra, quando as condições são duvidosas e as decisões difíceis, os líderes devem decidir, escolher e agir. Eles entendem que quando não agem são vistos como indecisos e fracos, e isto aumenta a sensação de ansiedade, impotência e insegurança nas pessoas. Quando os outros duvidam da capacidade, confiança ou eficácia de um líder, a missão é sabotada.
Por conseguinte, líderes precisam ser considerados pessoas corajosas que agirão e pessoas que acreditam que a mudança gera mais oportunidades do que ameaças. Ainda que tenham de manter intenso contato com a realidade, eles também precisam ser otimistas.

E não menos importante...

Liderança psicológica
Em termos psicológicos, líderes guiam porque convencem os outros de que entendem as questões melhor do que ninguém. As pessoas os seguem porque eles falam sobre soluções com convicção persuasiva, projetam confiança quando os outros estão inseguros e agem de modo decisivo. Hoje, e mais ainda no futuro, os líderes precisam convencer as pessoas de que lidar com a mudança interminável não apenas é necessário mas também resultará em algo melhor.
As pessoas são líderes à medida que criam seguidores. Definitivamente, liderança é um vínculo emocional, às vezes até um compromisso apaixonado entre seguidores e o líder e sua metas. A liderança difere de outros relacionamentos pelo fato de que líderes geram esperança e convicção nos seguidores. Eles são pessoas que outros percebem como capazes de proporcionar melhorias. No campo emocional, líderes criam seguidores porque geram:
· Confiança em pessoas amedrontadas
· Certeza em pessoas hesitantes
· Ação onde havia hesitação
· Força onde havia fraqueza
· Método onde havia confusão
· Coragem onde havia covardia
· Otimismo onde havia ceticismo
· Convicção de que o futuro será melhor

Decididamente, líderes guiam porque geram um compromisso apaixonado em outras pessoas para que sigam as estratégias e alcancem o sucesso. Por fim, a liderança não é intelectual nem cognitiva. Liderança é emocional.

[1] Gerência em tempo de paz e liderança em tempo de guerra. Judith M. Bardwick
In: O Líder do Futuro – Peter Drucker Foundation, Editora Futura, 1996


 * Manager do Blogue desde Outubro de 2007.