segunda-feira, 13 de julho de 2020

Gengis Khan e seu Falcão

Artigo redigido por Davide Gouveia*    
DG88|2007-2020

Hoje relembro uma lenda que faz parte do livro a "História secreta dos Mongóis", que nos apresenta uma reflexão importante aplicável às empresas e a tudo o resto.


A lenda:

Certa manhã, o guerreiro mongol Gengis Khan e sua corte saíram para caçar. Enquanto seus companheiros levavam flechas e arcos,Gengis Khan carregava seu falcão favorito no braço - que era melhor e mais preciso que qualquer flecha, porque podia subir aos céus e ver tudo aquilo que o ser humano não consegue ver.

Entretanto, apesar de todo o entusiasmo do grupo, não conseguiram encontrar nada. Decepcionado, Gengis Khan voltou para seu acampamento - mas para não descarregar sua frustação em seus companheiros, separou-se da comitiva e resolveu caminhar sozinho.
Tinham permanecido na floresta mais tempo que o esperado, e Khan estava morto de cansaço e de sede. Por causa do calor do verão, os riachos estavam secos, não conseguia encontrar nada para beber até que - milagre! - viu um fio de água descendo de um rochedo à sua frente.

Na mesma hora, retirou o falcão do seu braço, pegou o pequeno cálice de prata que sempre carregava consigo, demorou um longo tempo para enchê-lo e, quando estava prestes a levá-la aos lábios, o falcão levantou vôo e arrancou o copo de suas mãos, atirando-o longe.

Gengis Khan ficou furioso, mas era seu animal favorito, talvez estivesse também com sede. Apanhou o cálice, limpou a poeira, e tornou a enchê-lo. Com o copo pela metade, o falcão de novo atacou-o, derramando o líquido.

Gengis Khan adorava seu animal, mas sabia que não podia deixar-se desrespeitar em nenhuma circustantância, já que alguém podia estar assistindo à cena de longe e, mais tarde, contar aos seus guerreiros que o grande conquistar era incapaz de domar uma simples ave.

Desta vez, tirou a espada da cintura, pegou o cálice, recomeçou a enchê-lo - mantendo um olho na fonte e outro no falcão. Assim que viu ter água suficiente e estava pronto para beber, o falcão de novo levantou vôo, e veio em sua direção. Khan, em um golpe certeiro, atravessou o seu peito.

Mas o fio de água havia secado. Decidido a beber de qualquer maneira, subiu o rochedo em busca da fonte. Para sua surpresa, havia realmente uma poça d'água e, no meio dela, morta uma das serpentes mais venenosas da região. Se tivesse bebido a água, já não estaria mais no mundo dos vivos.

Reflexão sobre esta lenda:

Para que Servem as Emoções? É com o coração que se vê corretamente; o essencial é invisível aos olhos. ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRY, O pequeno príncipe. 

Gengis Khan teve o maior império ininterrupto que alguma vez existiu no nosso planeta, como também soube liderar, integrar e gerir. 

Gengis Khan passou à historia com uma má fama e injusta, mas, apesar disso, não devemos esquecer que, entre todos os grandes conquistadores que a humanidade já conheceu, foi o único que nunca foi abandonado nem traído por nenhum dos seus generais. Nem Alexandre, nem Napoleão, nem Julio Cesar podem dizer o mesmo. Além disso, Temudjin, esta este o seu nome, dotou o povo mongol de um constituição, um alfabeto, uma escrita e um império. 

Ja todos tivemos daqueles dias de raiva em que parece que não é possível aguentar mais. Alguém nos ofendeu. Faltaram-nos ao respeito e estamos prestes a explodir. Nessa altura, nada nos importa e acreditamos que temos razões suficientes para arrasar tudo o que se ponha à nossa frente. Nesses dias, e nesses momentos, o melhor é respirar fundo. Agir depois, para não matarmos o falcão sem querer. 

Aristóteles disse que zangar-se é muito fácil, qualquer pessoa é capaz disso, mas zangar-se com a pessoa certa, na medida certa e com a energia necessária, isso já só os sábios. E o mesmo acontece no mundo empresarial. Não podemos ser demasiado susceptíveis, ser daquelas pessoas que estão sempre a "armar confusão". É péssimo para a nossa imagem e neutraliza uma arma que, se a soubermos usar, nos poderá ser muito útil. Como dizem os mais velhos: a ira é má conselheira

Segundo estudos realizados pelo psicólogo Daniel Goleman, autor do livro "A Inteligência Emocional", (Editora Campus/Elsevier, 1995), 90% da diferença entre as pessoas que obtém grande sucesso pessoal e profissional, e aquelas com desempenho apenas mediano, se deve a fatores relacionados a competências comportamentais, mais do que às habilidades aprendidas na escola. 

O conjunto destas competências é o que podemos chamar de Inteligência Emocional. Elas têm cinco componentes principais: 

• Auto-percepção – que é a capacidade das pessoas conhecerem a si próprias, em termos de seus comportamentos frente às situações de sua vida social e profissional, além do relacionamento consigo mesmo.

• Autocontrole – ou capacidade de gerir as próprias emoções, seu estado de espírito e seu bom humor.

• Auto-motivação – capacidade de motivar a si mesmo, e realizar as tarefas e ações necessárias para alcançar seus objetivos, independente das circunstâncias.

• Empatia – habilidade de comunicação interpessoal de forma espontânea e não verbal, e de harmonizar-se com as pessoas.

• Práticas sociais – capacidade de relacionamento interpessoal e de trabalho em equipe. 


De toda esta história não poderemos tirar melhor conclusão do que aquela que o próprio Gengis Khan quando voltou ao acampamento com o falcão morto em seus braços mandou fazer uma reprodução em ouro da ave e gravou em cada uma das suas asas uma frase. Uma mais aplicada às empresas e a outra mais aplicada a vida, mas é bom lembrar as duas: 

"Mesmo quando um amigo faz algo de que você não gosta, ele continua sendo seu amigo".

Na outra asa, mandou escrever:
"Qualquer ação motivada pela fúria é uma ação condenada ao fracasso".

Atualmente, as empresas de sucesso já perceberam a importância de ter, em seus quadros, profissionais com habilidades comportamentais que vão além das competências técnicas. Sabem que treinar um jovem profissional em conhecimentos técnicos é tarefa relativamente simples, bastando muitas vezes alguns cursos de aperfeiçoamento ou uma pós-graduação. No entanto, encontrar profissionais que tenham perfil empreendedor, sejam bons comunicadores, tenham atitude de vencedores e saibam superar desafios é bem mais complicado.

É comum encontrar, profissionais que apesar de serem extremamente competentes do ponto de vista técnico, encontram grandes resistências nas organizações em que trabalham e também por parte dos clientes. Estes demonstram ter baixa Inteligência Emocional, refletida em sua incapacidade de trabalhar em equipe, dificuldade de comunicação, mau humor freqüente, entre outras limitações comportamentais. 

É comum ouvir frases como: “Você precisa ser racional no trabalho e não deixar suas emoções te atrapalharem”. Mas se você aprender a levar inteligência para suas emoções, como isso pode mudar a sua vida profissional?
Uma das consultorias empresariais mais renomadas do mundo, a TalentSmart, realizou uma pesquisa que apontou a Inteligência Emocional como responsável por 58% do desempenho de qualquer profissional. Talvez o seu nível de IE seja o fator que está separando você de alcançar suas metas no mercado de trabalho e fazer sua carreira decolar.
Uma das frases de Daniel Goleman que resume a importância de desenvolver sua IE diz que:
“[…] o impulso é o veículo da emoção; a semente de todo impulso é um sentimento explodindo para expressar-se em ação. Os que estão à mercê dos impulsos – os que não têm autocontrole sofrem de uma deficiência moral. A capacidade de controlar os impulsos é a base da força de vontade e do caráter.”
Portanto, não se trata de anular suas emoções, mas construir novos comportamentos, pensamentos e hábitos, para saber usar a Inteligência Emocional totalmente a seu favor. 

* Manager do Blogue desde Outubro de 2007.