segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

"Mais vale comer um pudim a meias do que um fardo de palha sozinho"

Artigo redigido por António Machado Vaz*   
AMV17|2013-14

Ouvi esta frase da boca de Henrique Granadeiro e lembrei-me dela esta semana ao saber que o português The Lisbon MBA Internacional subiu 16 posições no ranking do Financial Times, estando agora classificado como o 36º melhor do mundo e o 13º melhor da Europa.

Esta eleição resulta de algo que poucas vezes acontece em Portugal: uma aliança entre dois concorrentes no mercado interno, que uniram forças para se tornarem mais competitivos no mercado externo. De facto, este programa de MBA resulta de uma iniciativa conjunta de duas universidades portuguesas – da Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais da Universidade Católica (Católica-Lisbon School of Business and Economics) e da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa (Nova School of Business and Economics) – em parceria com o norte-americano MIT Sloan School of Management. 
Da união desses esforços resultou aquele que é o único MBA português a fazer parte dos 100 melhores do mundo.

Esta é uma estratégia que deve – e tem de ser – seguida cada vez mais pelos políticos e empresários portugueses. Mas a verdade é que os portugueses têm uma dificuldade endógena em se associarem. Preferem ser peixes grandes em aquários minúsculos do que peixes médios em aquários maiores – o que faz com que fiquemos em desvantagem face à concorrência estrangeira.

Veja-se o seguinte exemplo: 10 empresários portugueses resolvam expandir a sua atividade para o Brasil. Cada um deles vai avançar sozinho e abrir o seu escritório. Resultado: vão abrir 10 escritórios, cada um com a sua renda, com a sua secretária e o seu contabilista. Na mesma situação, um espanhol associa-se a outros 9 espanhóis: só pagam uma renda, uma secretária, um contabilista - mas principalmente beneficiam das sinergias de todos. E levam o apoio do AICEP espanhol e do Santander – porque têm um volume de negócios em conjunto, que já merece o apoio dessas instituições.

Nós, portugueses, somos naturalmente avessos a estas associações. Podemo-nos refugiar na desculpa da falta de apoios estatais mas trata-se, sobretudo, de uma desconfiança inderente; de falta de vontade e de poder de mobilização dos empresários portugueses para fazerem acções conjuntas.

O problema é que, ao avançar sozinho e com menos estrutura, um português vai ter de ser muito melhor, trabalhar muito mais, vai ter muito mais dificuldades do que os que avançam em conjunto. Já entramos em desvantagem. O que diminui substancialmente as hipóteses de termos sucesso.

Mas esta dificuldade de associação dos portugueses é já um problema antigo e que se faz sentir em muitas áreas. Veja-se o caso de Vila Nova de Gaia: trata-se do 3º município mais populoso do país, com mais de 300 mil habitantes. Mas nunca teve nenhuma equipa de futebol na 1ª divisão. A dificuldade de os Gaienses colaborarem entre si faz com que prefiram ter 10 pequenos clubes do que um grande. É o Rechousa, o Dragões Sandinenses, o Vilanovense, o Candal, o Canelas e por aí fora. Consta que já tentaram por diversas vezes fundir vários clubes para formar um clube grande. Isso significaria que, em vez de 10 clubes terem um orçamento de 100 mil euros cada um, poderiam ter um orçamento conjunto de 1 milhão. Mas isso significaria ter apenas 1 presidente, em vez de 10; 1 tesoureiro, em vez e 10 e por aí fora. E ninguém está disposto a abrir mão de ser “o maior do bairro dele” para passar a ser apenas mais um (ainda que no maior clube da cidade).


Conclusão: De facto, mais vale comer um pudim a meias do que um fardo de palha sozinho… mas (como dizia um professor meu), os burros não pensam assim…

* Colaborador nas publicações do Blogue desde Outubro de 2013.