Artigo redigido por António Machado Vaz*
AMV18|2013-14
Carlos Costa, governador
do Banco de Portugal, disse recentemente o seguinte: “As empresas portuguesas são, em média, mal geridas”.
"A maior debilidade da economia portuguesa é
os gestores, não são os trabalhadores", referiu o governador.
Esse comentário leva-nos
a focar naqueles que são os grandes responsáveis por criar, inspirar, indicar
um caminho e partilhar uma visão na organização: os Líderes. E, de facto, muitos dos supostos líderes de hoje continuam
a ser os patrões que, ao longo dos anos, não desenvolveram a mínima capacidade
de liderança. Aqueles que sempre fizeram igual mas que esperam, ainda assim,
obter resultados diferentes.
O problema está,
portanto, no TOPO DA PIRAMIDE - e não no fundo.
A propósito disso, Sérgio Almeida - especialista nas áreas de Liderança,
Negociação, Comunicação e Vendas - faz um apanhado dos 7 erros mais comuns e
que, em grande medida, explicam a má-gestão de que fala Carlos Costa.
É um excelente trabalho
de síntese, que vale a pena aqui transcrever:
1# Entender que gestão é o mesmo que liderança (“Mindset
vs. Heartset”)
“Gerir pessoas é
muito difícil”. Já ouviu isto em algum lado? Aposto que sim! Um dos erros
mais comuns é pensarmos que a “folha de excel”, resolve as questões de
liderança. Se a organização, método, rigor, mapas de gestão, KPIs, etc, são
muito importantes, o envolvimento e relação com os colaboradores é fundamental.
Invista na proximidade, dedique algum tempo aos seus colaboradores, lembre-se
que relação gera confiança, e sem esta última não existe Líder. Para além de um
Mindset das equipas, será que temos
claro o seu Heartset?
2# Contratar rápido, despedir lento (“Pessoas
certas nos lugares certos”)
Muitas das vezes tomamos decisões de contratação
demasiado rápidas e pouco ponderadas. “Durante
a minha experiência de Diretor Comercial” – diz Sérgio Almeida – “percebi que um dos erros que cometia a
determinada altura, tinha que ver com a ansiedade na contratação de comerciais
para as equipas de vendas. A pressão em obter resultados pode levar a
decisões rápidas e menos ponderadas. A questão que se coloca em primeiro lugar
é se podemos definir o custo de uma má
contratação. Outra questão levanta-se quando vamos “emendar a mão”: “Confesso que a ligação emocional e por vezes
a esperança de que o colaborador “um dia mude de comportamento”, nos leva
muitas das vezes a adiar o que é óbvio... Sendo certo que uma mudança interna
para outro setor ou área de negócio pode ser uma solução boa para todos,
empresa e colaborador.”
3# Focar-se nas tarefas e não nos resultados (“Nada é mais fácil do que ser ocupado, nada é mais difícil do que ser
eficaz.”)
“No início da
minha carreira, passei por um período de imenso trabalho, um enorme número de
tarefas que deveria realizar, uma agenda preenchidíssima, vivia com um olhar
muito ocupado e abatido, cinzento... na relação com a minha equipa sentia “que
eu tenho tanta coisa para fazer que nem sequer tenho cinco segundos para falar
contigo”, nessa altura como líder, nunca tinha tempo para me concentrar em
resultados reais, para ouvir as pessoas, vivia ocupado em resolver problemas”.
Excelentes processos acontecem quando conseguimos ter excelentes equipas e
colaboradores alinhados. Para isso necessitamos de tempo para as pessoas! Esta
é a grande diferença do Chefe (focado na tarefa) para o Líder (focado nos
resultados).
4# Informar em vez de comunicar (“Comunicar
significa colocar em comum”)
Muitas das reuniões de equipa iniciam e terminam com
um único emissor: o gestor. Um empresário dizia sobre a sua forma de liderar “a
mim os meus colaboradores não me ensinam nada!”. Aqui está a ideia peregrina:
eu sou o maior, falo mas não ouço! O chamado “líder celebridade”, que tem
frases como “Você está aqui para trabalhar, não é para ter ideias”, são o
dia-a-dia neste registo de chefe. A nível organizacional este é um dos erros
mais comuns - até por força da pressão e necessidade de comunicar rápido,
decidir já, obter resultados imediatos. Para comunicarmos de forma efetiva, há
que adaptar a mensagem ao público-alvo e sobretudo perceber que para comunicar
é necessário emitir e receber.
5# Falta de criatividade e visão (“A
missão do líder é concretizar a visão em realidade”)
O Líder é inspirador quando é criativo e partilha a sua visão com os demais.
Quando John Scully, Michael Spindler e Gil Amelio se tornaram os três CEOs
sucessivos da Apple no início dos anos 90, a empresa passou pelos seus piores
anos. Porquê? Todos eram bons gestores mas simplesmente não trouxeram ideias
inovadoras. O grande salto deu-se quando Steve Jobs regressou a Apple. E
porquê? Porque Steve Jobs era um líder de ideias, com uma visão clara e
partilhada, sonhava com uma marca que despertasse paixões, transmitia aos seus
colaboradores “que o objetivo da Apple é ter fãs e não clientes”.
6# Não investir no desenvolvimento pessoal (“O fraco rei, faz fraca a forte gente”)
O potencial de uma equipa será sempre limitado (ou
desenvolvido) pela capacidade da sua liderança. Alguém que queira vencer hoje,
necessita de se desenvolver pessoalmente: ler mais, acrescentar conhecimento, evoluir,
questionar as certezas instaladas e colocar em prática as mudanças. Arriscar,
crescer como pessoa.
A auto-evolução permite ao líder desenvolver a sua auto confiança - podendo
desta forma delegar na equipa sem se sentir ameaçado, apoiar os colaboradores
no crescimento dentro da organização, ajudar
a criar mais líderes e não mais seguidores. Temos a tendência a pensar
(erradamente) que conhecimento é sabedoria, que experiência é mestria, e que
idade significa maturidade.
7# Pensar e agir sozinho (“Sozinhos
vamos mais rápido, juntos chegamos mais longe”)
Mais importante do que resolver problemas é encontrar soluções, e a melhor
forma para o fazer é através do trabalho em equipa. Quando se fala em empowerment, estamos a falar na
capacidade de envolver os colaboradores na busca de soluções, partindo de um
princípio que várias cabeças pensam mais e melhor do que apenas uma só. A
motivação de uma equipa estará sempre ligada ao compromisso e ao propósito que
cada elemento assume nas suas funções dentro de uma organização. Ao líder, cabe
assim a responsabilidade de partilhar as responsabilidades mas também os
sucessos, e a visão do que pretende para o futuro.
* Colaborador nas publicações do Blogue desde Outubro de 2013.